Neste
Outono menos nostálgico que acalentador política e socialmente falando – pelo
menos para alguns, fracção razoável do povinho incluído – faz sentido
debruçarmo-nos um pouco sobre o que ontem (pré 5 de Outubro…) sucedeu eleitoral
e mediaticamente falando.
Num vôo de
pássaro (pardal, gavião, albatroz…) sobre o que nos foi dado ver pelas diversas
estações televisivas, algumas coisas nos chamaram a atenção.
(imagem recolhida aqui)
Aqui as
deixamos, ponto a ponto:
1. A “performance” do antigo primeiro-ministro, hoje submetido a
vilegiatura obrigatória num entreposto duma rua da capital, aos repórteres que
quase ansiosamente o aguardavam. Apesar da sua evidente atitude, supostamente
dinâmica política e interventora, não conseguimos ver o afamado “animal feroz” mas um indivíduo de rosto
marcado pelas rugas da actual magreza (e apoquentações?), encanecido, uma
espécie de fantasma político que, ao que cremos, ainda não percebeu que já nada
tem a fazer no imaginário público nacional, excepto ser acolhido por gente dos
médias visando faits divers
supranumerários ou vitoriado por ineficazes.
2. A intervenção, digna de
um “vaudeville” de segunda ordem, dum
declarante oficial do PC, antigo candidato à presidência de República, que
mostrou que as ilusões circulantes naquela formação se traduzem em algo que
seria trágico se não fosse tristemente cómico: ganharem tendo perdido,
utilizando uma retórica que nos mergulha numa comiseração indisfarçável. Foi a
isto que chegou a sombra errante do “Pai dos Povos”, com toda a sua carga
simbólica, e que corrobora a velha e astuta frase de que a História se repete,
primeiro como tragédia e depois como farsa?
3. A presença, bem
entrosada, de membros da chamada “tralha
socrática”, depois passados para a figuração costista, apostados ferreamente
em demonstrar que o seu novel chefe (foi o que se pôde arranjar…), foi um
valente guerreiro, mau grado os desconchavos, os paupérrimos conceitos e a sua capacidade
indiscutível para não interessar nada a quem mais interessaria – que é como quem
diz: os cidadãos portugueses.
4. Os gritos vibrantes,
denunciadores de uma certa habilidade proto-circense, digamos, do acervo de
partidários com, bem na frente, amoráveis “múmias” do staff socialista, vitoriando galhardamente o chefe que acabava de
ser derrotado quando este, ainda mais galhardamente e numa frase que diz tudo
sobre o mesmo, anunciou que não se demitiria…
5. Os esforços quase
hercúleos de certas estações televisivas que, servindo-se de
comentadores/convidados competentíssimos nos seus malabarismos, se esmeraram à
boa maneira das fábulas para demonstrar que o preto é branco e o branco é preto
politicamente falando, pelo menos na praça lusa.
6. A deliciosa arrogância,
alfacinhista na essência mas muito grega no perfil clássico, da dirigente
bloquista, que ilustrou na perfeição a velha máxima de que, no que respeita a
formações governamentais em hipótese, a impossibilidade disso antes de o ser já o era…
7. A garantia, dos
triunfadores da contenda, de que vão proceder a ajustes na máquina de governar
– o que, sendo uma vontade não é, pelo que se presume e pelo que já se ouviu,
algo para acreditarmos estupendamente. Não esqueçamos que ainda por cima nas hostes
rosas se conservam ferros, galambas e lacões (e outros pelo estilo) o que não
nos permite sonhar excessivamente.
8. Por último, a retórica
do chefe comunista (a que alguns, tecnicamente, atribuem resiliências que viriam
do estalinismo – discordo, acho que aquilo é mesmo estrutural), na sua vontade
- claro que a favor, sempre, do bom povo totalmente proletário – de ir para o
cadeirão curial sem ter para isso expressão maioritária dos votantes…
2 comentários:
E duques!
Maria Viveiros
A esquerda portuguesa e os seus lulus de fila da Comunicação Social são, mais do que tudo, ridículos, pela estupidez e pela vaidade. Mas uma das características destas é que, tal como os vampiros das histórias, não há espelhos que as reflictam para aqueles a quem elas sugam.
David Caetano
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