2 de julho de 2016

Kamarada Soros no parlamento "europeu"

Alguém é capaz de explicar o porquê da pestilenta presença da figura-crony George Soros no parlamento europeu?

Algum esquerdalho mais ou menos indignácaro mais ou menos idiota-útil, mais ou menos vigaro-líder lhe fez alguma espécie de pergunta inconveniente cuja gravação possa ser tornada pública?

George Soros é uma figura simpática aos idiotas-úteis porque financia centenas de milhar deles montados em centenas de "ONGs" e vivedo, por intermédio dos "acordos" de carraça que Soros mantém com diversos estados e com a "europa", a custas dos contribuintes.

Nem o sinistro parlamento europeu nem na pocilgosa política nacional uma única voz se fez ouvir sobre a presença de tão proeminente carraça. Porquê? Porque Soros é o agente dos fretes marxistas dos infiltrados fascistas cripto-comunistas que, como peste negra, infectam todos as máquinas estatais e  até os supostamente partidos de "direita".

Até lá, fica o herói Gerard Batten:


19 de abril de 2016

Doutores, engenheiros, poetas e ministros



A propósito do post anterior, acrescento eu este outro artigo de Alberto Gonçalves, publicado na revista Sábado da passada quinta-feira.

Um poeta na cultura


Juro pela minha saudinha que nunca ouvira falar do novo ministro da Cultura até ao respectivo anúncio, que aguardei a tremer. Felizmente, meio mundo possuía uma opinião abalizada sobre o dr. Castro Mendes e elucidou-me num instante. Os jornais disseram que o homem é diplomata e escritor (ou "poeta diplomata"). Personagens secundárias produziram elogios secundários. E o Presidente da República, com típica moderação, jurou tratar-se de "um grande poeta, um grande ensaísta" e "uma grande figura da Cultura portuguesa, além de ser um magnífico embaixador". Como dava um trabalhão telefonar para os países por onde o dr. Castro Mendes passou, não confirmei os predicados diplomáticos. Como é fácil catar textos na Internet, pude verificar os atributos poéticos. E fiquei abismado. 

Fontes diversas divulgaram sobretudo o seguinte trecho: "Nós vivemos da misericórdia dos mercados/ Não fazemos falta./ O capital regula-se a si próprio e as leis/ são meras consequências lógicas dessa regulação/ tão sublime que alguns vêem nela o dedo de Deus./ Enganam-se./ Os mercados são simultaneamente o criador e a/ própria criação./ Nós é que não fazemos falta." 

No que toca à forma, percebe-se que isto é um poema apenas porque as frases se partem ao meio e estendem-se por mais linhas do que as necessárias. Se eu/ escrevesse dessa maneira/ esta crónica deixaria de ser/ uma mera crónica e ascenderia/ à sublime dimensão/ poética.// Também seria provável que a SÁBADO/ me mandasse/ passear. Acerca do conteúdo, é evidente que o dr. Castro Mendes dispõe de firmes convicções ideológicas. Por azar, é o tipo de ideologia expectável num adolescente que assiste a um colóquio do Bloco no ISCTE. 

Veja-se outro exemplo, a primeira estrofe de O Sonho de Schauble: "Estavam os mercados em sossego/ dos seus juros colhendo doce fruto/ naquele encanto de alma ledo e cego/ que o Centeno não deixa durar muito;/ as bolsas escalando com apego,/ os olhos das agências bem enxutos,/ saltando e sorrindo sem cuidado:/ mas eis que Portugal tem outro fado!" Temos lirismo, temos glosa camoniana, temos análise económica, temos graxa ao PS e temos a presença, inédita na história da literatura, de um ministro das Finanças em verso decassílabo. 

Quem escreve assim não é gago. Nem grande escritor, convenhamos. É justamente o género de portento que passa por intelectual em nações exóticas, e que me diverte em doses imoderadas. Se qualquer titular da "Cultura" serve para distribuir o meu dinheiro pelos "agentes" do sector, este pelo menos promete retribuir-me com comédia. Não quero menosprezar o filho de Mário Soares, mas duas novelas "eróticas" remotas e umas atoardas no Facebook não se comparam à avantajada produção "literária" do dr. Castro Mendes, sujeito capaz de se citar a si mesmo e obra em progresso capaz de considerar que "cada poema é um encontro". 

Imagine-se agora centenas de poemas, muitos a vibrar de galhofa involuntária. A mim convenceu-me. Termino com uma homenagem, de 2010, ao comunismo brasileiro e ao seu chefe de propaganda: "Sei que estás em festa, pá:/ Lula deu grana!/ E o Brasil ganhou fama/ e prestígio pra xuxu!" 

Não fazemos falta? O dr. Castro Mendes fazia imensa.

15 de abril de 2016

Um par de crónicas bem afinfadas é do que eles precisam!



E não se fez rogado, o Alberto Gonçalves, no DN...


Andar aos papéis

Além do título apelativo, a história dos Panama Papers dava um filme. Um filme dramático, longo e chato como a ferrugem. Ou uma comédia razoável. Eu pelo menos ri-me aqui e ali. Há a rábula das virgens ofendidas com as violações nacionais do segredo de justiça que se tornam galdérias excitadas com qualquer revelação internacional obtida à socapa. Há a rábula dos regimes "progressistas" implicados, prova cabal de que o desprezo pela lógica do capital termina onde começa a possibilidade de ganhar uns trocos. Há a rábula do sr. Almodóvar, o cineasta cuja obra encerra subtis críticas ao consumismo e cuja vida abraça o dito sem subtilezas. Há a rábula dos desiludidos com a escassez na lista de milionários de Wall Street, que engendraram imediatamente uma teoria da conspiração para imputar os "papéis" a um golpe americano. Há a rábula do Expresso, que tarda em divulgar os "ex-ministros" metidos nisto. E há, sobretudo, a rábula dos que acham sinistra a existência de "paraísos fiscais", e criminosos todos os que fogem aos infernos do género.

Enquanto as boas almas se horrorizavam com os Panama Papers, em Portugal o governo prometia apostar jovialmente o fundo da Segurança Social em "reabilitação urbana", leia-se entregar os descontos de todos a um punhado de construtores amigos. É um mero exemplo, nem sequer fiscal. Porém, o que para o caso importa é o silêncio dedicado à proeza, garantia de que as boas almas não a estranharam. Não podiam, já que a tradição é justamente essa, a de o Estado achar que os cidadãos e as empresas são clinicamente incapazes de gastar o próprio dinheiro com juízo. E a resignação com que muitos cidadãos e muitas empresas aceitam o dogma parece dar razão ao Estado. Não dá: apenas dá razão a quem possui os meios e o engenho para colocar os rendimentos literalmente ao largo.

As terríveis offshores da lenda são, afinal, territórios que optaram por não sujeitar as pessoas a saques regulares e "legítimos". Por isso atraem fortunas. E por isso atraem o ódio dos socialistas dos vários partidos, genuinamente convencidos de que as fortunas seriam bem melhor aplicadas na satisfação de compinchas e na compra de votos. Quando Augusto Santos Silva sugere o fim das offshores em nome da "transparência", o cinismo é óbvio. É verdade que os Panamás e os Mónacos também atraem indivíduos corruptos ou no mínimo pouco confiáveis, por acaso o tipo de gente que nunca, eu fique ceguinho, alguma vez desempenhou funções estatais relevantes ou beneficiou delas. O facto de haver meliantes no ramo da filatelia, digamos, talvez não justifique a abolição dessa ancestral actividade.

A abolir alguma coisa, antes o socialismo. Não é por nada, mas tendo a simpatizar mais com instituições que respeitam o meu dinheiro do que com aquelas que mo subtraem. Desgraçadamente, a paixão é platónica: não tenho um euro fora do país, quer porque o Estado me tira metade dos euros primeiro, quer porque os paraísos em causa se limitam a receber os ricos. Ao contrário do que proclama o sensível Pacheco Pereira, as offshores só são uma ameaça para a democracia se não se democratizarem. Pormenores à parte, a ameaça é outra.


Ética republicana

O filho de Mário Soares, que nunca ninguém soube para que servia, não gostou das críticas de dois colunistas, Augusto M. Seabra e Vasco Pulido Valente, à nomeação da sua relevantíssima figura para ministro da Cultura. Logo, recorreu naturalmente ao Facebook para ameaçá-los com "um par de bofetadas". Sobre o primeiro, acrescentou o epíteto de "vampiro" e, com típica elevação, atribuiu-lhe os escritos ao "azedume, o álcool e a consequente degradação cerebral".

O caso, apesar do escândalo momentâneo, tem importância proporcional à do protagonista, o qual, sendo um humanista dotado, ainda aproveitou dois simulacros de retratação para lançar o que julga serem provocações. Em ambos, o filho de Mário Soares aliviou-se de bravatas infantis ("Peço desculpa se os assustei") ou comparou a promessa de agressão a - preparem-se - "uma figura de estilo de tradições queirosianas". Não sei se, daqui em diante, sujeito que estrangule a mulher poderá invocar Raymond Chandler (e literalmente Althusser) em tribunal. Sei que o filho de Mário Soares não podia integrar um governo democrático. E sei que, até sair para dispôr da liberdade de andar ao tabefe virtual, ficava impecavelmente no governo que temos.

Antes de beatificarmos o primeiro-ministro por "aceitar", que é diferente de impôr, a demissão do filho de Mário Soares, convém recordar que o dr. Costa é o herói responsável pelo sms irado a um director do "Expresso". E que um antecessor, hoje caído, do dr. Costa demitia ou tentava demitir jornalistas insubordinados. E que um dos partidos responsáveis pelo dr. Costa persegue na Justiça um comentador do "Porto Canal". E etc. Quando pediu ao filho de Mário Soares para não se esquecer da função que desempenhava, o dr. Costa confessou ao país a conveniência em disfarçar a natureza a pretexto do cargo. Mas a natureza dessa gente não muda. A ética republicana é pouco ética e demasiado republicana. Como continuaremos a ver e, com azar, a sentir.

4 de abril de 2016

Dos descaminhos da estupidez vergonhosa






Uma conspiração de estúpidos

Quando não assiste a partidas de futebol ao lado do excelentíssimo Presidente Marcelo ou inaugura cidades do futebol (?) ao lado do excelentíssimo Presidente Marcelo, António Costa diz coisas. Há dias, com a habitual sofisticação, disse por exemplo que o PSD defende os exames apenas para apurar "a raça dos eleitos". Quem nos dera que fosse verdade: a exigência escolar, caso existisse, separaria os espertos dos espertalhões e, entre outras vantagens, impediria que criaturas sem préstimo chegassem a primeiro-ministro. Como a raça se mede por baixo, são os literalmente não eleitos que mandam nela e dispõem de poder para cometer as calamidades que bem entendem.

Também há dias, o dr. Costa - que em Junho passado lamentou que Portugal não comemorasse o 1.º de Dezembro ou, na ilustrada cabeça dele, "a sua data fundadora" - convocou uma cerimónia solene para devolver à nação os quatro feriados que lhe faltavam: Corpo de Deus, Implantação (género prótese) da República e Todos-os-Santos, além do citado. É o retorno dos "momentos históricos" do eng. Sócrates, que chamava fanfarras para inaugurar um armazém de pneus. Só é pena que o dr. Costa não organize liturgias assim bonitas para assinalar cada aumento dos combustíveis.


Na presença de vultos do calibre dos ministros da Cultura e da Defesa, do sr. Pio e de um ex--vice-presidente de Vale e Azevedo, todos ilustres representantes da capacidade selectiva do nosso ensino, o dr. Costa notou haver "princípios, valores e acontecimentos fundamentais cuja memória e celebração não podem estar à mercê de cálculos ocasionais, de impulsos ideológicos e de fins propagandísticos". Felizmente, os tais feriados não devem integrar as categorias acima, pelo que se adaptam com primor aos cálculos, à ideologia e à propaganda. Depois, com o fervor épico de um almirante Thomaz, o dr. Costa falou em "pedagogia cívica", "sentido patriótico", "atitude contemporânea" e "capacidade de mobilizar" os portugueses. Tudo isto a pretexto de uma golpada de rústicos e de uma insurreição que nos livrou do salário médio espanhol, mais as festas cristãs que tanto comovem a maioria de esquerda.


Enquanto sociedade, nunca nos distinguimos pela lucidez, traduzida na responsabilização dos políticos e na suspeita de que os actos implicam consequências. Mas começa a ultrapassar-se até os nossos folgados limites. Não é a questão dos feriados, irrelevante sob ambas as perspectivas, mas o Carnaval grotesco que adorna a respectiva "reposição" e esconde mal, muito mal, o resto. Não é o regresso à perigosa leviandade de Guterres e Sócrates, mas o gozo infantil que agora a acompanha. Não é o altíssimo risco de nova falência e de novo "resgate", mas a alegria ou a apatia com que os aguardamos. Não é o sermos enganados, mas o sermos enganados por burlões desastrados e assistirmos resignados à burla.


A palavra final ao dr. Costa: "Temos de saber que Portugal não começou connosco nem vai acabar connosco." Pois não: o provável é que eles acabem com Portugal. Ao lado do excelentíssimo Presidente Marcelo.


Os descaminhos da fé


As más notícias sucedem-se. Não só o Estado Islâmico já ameaça directamente Portugal como continua a recrutar portugueses, sobretudo em Lisboa e na zona centro. O único consolo chega das autoridades belgas, que enfim descobriram a explicação para a capacidade de sedução do bando de psicopatas: "Os nossos jovens são vítimas de SMS propagandísticos." E de "predadores", acrescenta o Guardian. Trata-se, afinal, do que sempre suspeitei: aquilo no fundo é gente impecável, desviada pelas proverbiais más companhias para rebentar com terceiros e outros gestos talvez censuráveis. Antes que a coisa chegue ao aqui norte, à cautela já desliguei o telemóvel.

Da vergonha diplomática


Em Outubro passado, o caso Luaty Beirão inspirou Mariana Mortágua a escrever uma crónica violentíssima no Jornal de Notícias. Aí, a deputada do BE atacava com firmeza "a impunidade de que José Eduardo dos Santos beneficia para manter o seu regime de corrupção e ataque aos direitos humanos". E não se esquecia, antes lembrava-se a cada parágrafo, de apontar as "especiais responsabilidades" do governo português "nesta vergonha diplomática". Estava lá tudo: o ministro Machete, que se desculpava pelas investigações a figuras do regime de Luanda; o ministro Portas, que visitou a cidade; Cavaco Silva; Ricardo Salgado; etc. Enquanto, por reles interesses materiais, o poder daqui fechasse os olhos ao poder de lá, a apurada sensibilidade social da dona Mariana nem a deixava dormir em condições. Que mulher enorme.

Infelizmente, bastou um semestre para encolher. Há dias, Luaty Beirão e os seus parceiros foram condenados a cinco anos de prisão e, para que não a acusassem de incoerência, a dona Mariana voltou à carga no JN. Nova crónica, a velha luta pela liberdade de expressão. Pelo meio, nem uma referência ao nosso governo. O governo alterou as relações económicas com Angola? Descontadas as encenações na AR, não consta. Nem consta que a anunciada visita àquelas bandas do PM (e do PR) seja acompanhada por um exército libertador. O que mudou? As conveniências, ou os titulares do governo e o apoio do BE ao mesmo.

Se custa ver PSD e CDS votarem ao lado do PCP, nesta ou em qualquer matéria, custa mais ver as meninas do Bloco passarem por campeãs dos direitos humanos. A menos que a pulhice tenha agora outro nome.

7 de março de 2016

Um esclarecimento que nunca é demais...




... repetir.

“Os inimigos da liberdade (dos outros)”



Um excelente artigo este, de Alexandre Homem Cristo, no Observador:

Agosto de 2014. Publico, no Observador, um artigo de opinião sobre a (falta de) exigência no acesso à carreira de professor e o seu efeito na degradação da qualidade do ensino público. Nesse dia, um vulcão de ódio explode nas minhas contas de e-mail e facebook. Na caixa de comentários do jornal, dezenas ocupam-se a escrutinar (e a inventar) a minha biografia – quem são os meus pais, onde cresci, onde estudei, onde trabalhei, com quem fui visto. A difamação (pessoal e profissional) estende-se aos blogs e às redes sociais. Recebo ameaças de agressão, vindas de quem afirma saber onde moro. Sou insultado e alvo de todo o tipo de calúnias. E, nos meus locais de trabalho, e-mails, cartas e abaixo-assinados exigem o meu despedimento. A discordância não bastou, quem não gostou do que leu tentou lixar-me a vida.

Bem sei que este episódio pessoal nada tem de excepcional. Quem escreve nos jornais colecciona episódios similares com professores, enfermeiros, ambientalistas, defensores dos animais. Ou alentejanos, como aconteceu nestes dias com o (meu amigo) Henrique Raposo, a propósito do seu livro “Alentejo Prometido” (FFMS, 2016). De facto, situações do género, com diferentes graus de gravidade, sucedem vezes demais para que ainda haja quem se faça desentendido quanto ao essencial – estar-se do lado da liberdade de pensar, dizer e escrever, mesmo quando se discorda do que os outros pensam, dizem e escrevem. E, no entanto, desentendidos há.

O ódio existe e existirá sempre. Daí que a questão não esteja tanto no asco incorrigível e efémero que habita as redes sociais, mas em quem o legitima e se alimenta dele. É simplista apontar o dedo às redes sociais, dizer cobras e lagartos do facebook e jurar desprezo eterno à internet. Mas não é eficaz. O culpado das proporções que o ódio cibernético atinge não se chama Mark Zuckerberg nem facebook. E, por maior impacto que tenha a sua boçalidade, os principais inimigos da liberdade não são os idiotas anónimos que berram, queimam escritos ou insultam quem os escreveu. São, afinal, os que se calam, os que receiam enfrentar a multidão, os que justificam as agressões com um “ele pôs-se a jeito”, os que toleram o intolerável e encontram um ângulo para encaixar a violência desde que os violentados pensem de maneira diferente da sua.

Infelizmente, muita gente que deambula no espaço público demonstrou viver num tempo que é mais velho do que novo. Não é de agora e a perseguição ao Henrique Raposo só serviu para nos avivar a memória. Que vários alentejanos não tenham reconhecido as suas raízes no livro do Henrique é respeitável, embora se lamente que o tenham expressado por via da intimidação. Mas que outros (e foram tantos) tenham validado essa intimidação ultrapassa os limites da intolerância. Por exemplo, aGaleria Tintos e Tintas, onde em Lisboa deveria decorrer o lançamento do livro, não quis estar envolvida na polémica, encolheu-se e cancelou. Por exemplo, Nicolau Breyner, em declarações ao DN, gracejou sem graça: “fazem bem os alentejanos em ameaçá-lo. Estou a brincar, ninguém deve ser ameaçado, mas devia pensar bem no que escreve”. Por exemplo, Francisco Louçã reduziu o assunto a um não-assunto e, sem uma palavra acerca das ameaças ao Henrique e à família, sentenciou que “fazer desta coisa que foi cometida por Raposo um caso nacional é que só mesmo por desfastio”. Os cobardes, os que acham que se deve “pensar bem” antes de escrever, e os que desdramatizam a violência contra os seus adversários políticos. Eis aqueles que dão força à intimidação das redes sociais. São eles os maiores inimigos da liberdade de expressão.

Habituámo-nos a que o exercício da liberdade seja um acto trabalhoso, de bravura e de resistência contra a javardice. Mas habituámo-nos mal. A liberdade tem um preço, já se sabe, mesmo que não devesse ser assim. Mas o que poucas vezes se assinala é que esse preço só se cobra a alguns, já que as liberdades que se reconhecem a uns não se toleram a outros. O Henrique Raposo não foi o primeiro a escrever sobre a relação amoral da região com o suicídio ou sobre a opressão das mulheres no Alentejo dos seus avós (e, de resto, ainda hoje). Mas ao Henrique não se perdoa que o tenha feito. Afinal, tudo o que separa a tolerância da intolerância é um nome – o do autor. Pode ser que, da próxima vez que se marchar pelos direitos conquistados no passado de Abril, haja alguém que lembre a batalha concreta do presente: a liberdade no Portugal de 2016, porque depende de quem a exerce, ainda não é um valor absoluto.

5 de março de 2016

Dos "liberais preocupados"



Há por aí pessoal particularmente sensível à "preocupação" relativamente a Trump ser liberal ou não.

É, quanto a mim, uma preocupação selectiva, tanto quanto se "houve desvios" quando os governantes comunistas fazem chegar a respectiva coutada ao tão almejado destino.

"Trump vai fechar fronteiras". Não vai. Vai colocar barreiras substanciais a quem pensa poder entrar por ali dentro sem dar cavaco. A malta "sensível" parece ter deixado de perceber que anormal é o contrário.

"Trump não quer o livre comércio". Quer, mas primeiro está a liberdade dos americanos. A malta "sensível" parece ter dificuldade em perceber que é isso que se espera de um decisor político face ao seu próprio país.

Na EURSS parece ter-se tornado normal que quanto pior for o desempenho de um político face aos seus próprios, melhor. A prova está no espanto com que encaram as declarações de Schäuble face aos militantes caloteiros e aos inventores de países e economias zombie, economicamente estimulados pelos bancos centrais, eufemismo para luminárias estatais.

" ... ahh ... mas ele vai fechar o mercado dos EUA aos outros países". É muito provável que por aí comece, e será especialmente eficaz se, paralelamente, demolir a 'red tape' que lá, como aqui na EURSS, atravanca toda e qualquer vontade de se trabalhar que não seja apenas para aquecer ... os bolsos da militância estatal em mandar na vida dos outros.

" ... ahhh ... " voltam à carga, "mas nenhum país pode fechar-se ao comércio internacional". Pode, se o fizer temporária e selectivamente e se tiver um mercado interno monstruoso e concorrencial, e imensos recursos naturais que explore .. demolindo a 'red tape'. Não é o caso de Portugal em qualquer dos aspectos.

" ... mas ele não tem planos para um rumo dos EUA". Ainda bem. De timoneiros está pejada qualquer máquina estatal, particularmente as monstruosas como a nossa (de Portugal e da EURSS). Ele que defenestre as luminárias e que permita que cada um governe a sua própria vida.


18 de fevereiro de 2016

Vígaristas: de fedor em fedor



Esta coisa do esquerdalho-indignácaro-vígaro primeiro ministro andar a marrar com o Governador do Bando de Portugal tem, para além da intenção de tentar silenciar quem revela a incompetência do presidente da geringonça, a mensagem à navegação de que se prepara para tratar à canelada quem não tiver papas na língua, não o deixando martelar as contas do estado para delas retirar os virtuais dividendos que apenas os vigaristas conseguem ver.

O 44, quando chegou ao poder, e pelas mesmas razões, fez o mesmo com os juízes. Parecendo que estava realmente preocupado com o absentismo deles, estava a marcar terreno para conseguir implantar a corja de vigaristas que deixou Portugal na falência.

17 de fevereiro de 2016

“O socialismo ama de amor perdido a liberdade de expressão”




Um texto exemplar pelo humor e acutilância possíveis, de Maria João Marques, no Observador, entre muitos outros bons artigos de diferentes autores que nesse jornal se vão publicando diariamente.

Estou a pensar explorar um novo caminho profissional, seguramente muito bem sucedido. Até tem possibilidades de internacionalização (verão que sim mais lá em baixo). Vou – digo já, para vos aliviar da curiosidade – escrever um manual de boas maneiras para esta era do ‘tempo novo’ em que novas formas dos cidadãos se relacionarem com o poder (do PS, façam vénias por favor) são necessárias.

E começo pela mais evidente. Pessoas portuguesas: não se pode fazer humor com essa pessoa magnífica que é Sua Excelência o primeiro-ministro, Dr. António Costa (e nada de se lhe dirigirem por menos do que esta fórmula completa). Sua Excelência o primeiro-ministro, Dr. António Costa foi obrigado, a contragosto e com grandes sacrifícios pessoais, a tomar as rédeas do governo de Portugal, entregue até aí a uns celerados de extrema-direita que apanharam os votos dos eleitores à traição em 2011 e outra vez em 2014. Devemos, por isso, usar sempre do mais escrupuloso respeito quando nos referirmos a Sua Excelência o primeiro-ministro, Dr. António Costa. O peso que tem sobre os ombros é gigantesco, o trabalho é hercúleo, pelo que se recomenda – na verdade, exige-se – deferência e gratidão.

Posto isto, devo congratular o twitter por ter suspenso a conta que parodiava Sua Excelência o primeiro-ministro, Dr. António Costa. E os cidadãos conscientes que, presume-se, denunciaram a indecência de haver quem ousasse fazer humor com Sua Excelência o primeiro-pinistro, Dr. António Costa. Bravo, são uns heróis. De facto, os governos com pendor esquerdista radical, como o da geringonça, só se aguentam muito tempo nos casos em que se podem calar os opositores políticos e, preferencialmente, enviá-los para a prisão. Folgo em ver que há quem na nossa boa esquerda não esqueceu a primeira parte desta boa lição.

(Atenção: a conta paródia a Passos Coelho sobreviveu toda a anterior legislatura sem qualquer beliscão. Isto está muito bem, porque se à esquerda se deve reverência agradecida, à direita só se oferece escárnio e ridículo. É a ordem natural das coisas. E, além do mais, as pessoas de direita são umas rústicas que levam a sério a balela da liberdade de expressão e, pobres almas, porventura até acreditam que ridicularizar políticos é uma boa dose de humildade que lhes é servida.)

No meio de toda esta história tenho a lamentar a conduta do Observador. Este jornal, vá-se lá saber por que razão, decidiu noticiar a suspensão da dita conta que parodiava Sua Excelência o primeiro-ministro, Dr. António Costa. O jornal devia ter estado calado e quieto. Era o que faltava a comunicação social pretender dar notícias que contem verdades. E que permitam às mentes maldosas criar a ideia de que há quem à esquerda não saiba lidar com a liberdade de expressão. Li no twitter vários amantes da liberdade de imprensa justamente zangados com a notícia. Os outros jornais estiveram, regra geral, mais amestrados, noticiando a suspensão a correr, muitos ignorando o incidente (afinal que interesse público tem a informação de comportamentos de tiranetes em potência?) e, sobretudo, informando que o PS institucional e o governo nada tinham a ver com a suspensão. Isto sim é imprensa a escrutinar o poder. Bravo também para eles.

E palmas para Edite Estrela – que mal a conta agora suspensa foi criada embirrou com a utilização da fotografia de Costa (e não me respondeu à pergunta se também havia embirrado com a utilização da fotografia de Passos Coelho na sua conta fictícia; estou certa que sim). E para Francisco Seixas da Costa, que logo a geringonça, ai, enganei-me, o governo de Sua Excelência o primeiro-ministro, Dr. António Costa tomou posse, tratou de propor que se acabasse com o anonimato nas redes sociais. Tudo pessoas que querem evitar que nos desviemos por maus caminhos. Bem hajam.

Não posso passar sem, também, censurar os leitores do Observador que aos milhares partilharam a notícia, e muitos mais milhares que leram e se insurgiram nas redes sociais. São pessoas de má índole que não merecem o desvelo com que Sua Excelência o primeiro-ministro, Dr. António Costa cuida deles. Só me ocorrem as rainhas Mary e Anne de Inglaterra, que depois de roubarem o trono ao irmão ficaram conhecidas por ‘filhas ingratas’.

E por que razão falei eu em internacionalização? Porque na Grécia certamente irei ter sucesso idêntico. O governo desses grandes democratas do Syriza vai fechar canais privados de televisão, reduzindo-os a quatro (número de resto demasiado generoso). Isto, claro, para incentivar a independência da comunicação social face ao poder político. (Se se engasgou com as gargalhadas, é bom que faça alguma penitência, porque pode bem ter dado a ideia perigosa aos demais humanos de que não acredita nas boas intenções de Tsipras e companhia. E se as pessoas se lembram da gritaria que fez quando o governo da Nova Democracia encerrou, devido aos custos, a televisão pública grega – aquela televisão dócil que todo o governo decente mantém e manipula para fins de propaganda – vá ver nos livros do Harry Potter feitiços para apagar a memória.)

Se está a notar por aqui algum padrão, faz bem. Costa avisou que iria seguir a linha do Syriza. Já desancou jornalistas e a conta de twitter que o parodiava foi suspensa, não se sabe denunciada por quem, tendo a conta simétrica de Passos Coelho durado quanto quis. Esperemos as cenas dos próximos capítulos.

4 de fevereiro de 2016

"Pobres de nós, que já vimos este filme"



Um texto exemplar de José Manuel Fernandes, no Observador, a ser lido na íntegra. 

«É difícil imaginar como poderia ser pior. É aterrorizador pensar que ainda vai ser pior.

Os dias foram passando e, no momento em que escrevo, o nevoeiro ainda é imenso sobre o que será o próximo Orçamento do Estado. Mas sabemos já muito sobre o que não foi.

Começou por não ser o Orçamento previsto pelos economistas do PS, pois as famosas “contas” de que António Costa nos falou meses a fio não resistiram ao embate da geringonça. Se alguma lógica existia nas previsões macroeconómicas da equipa de Mário Centeno, nenhuma lógica restou das negociações do mesmo Mário Centeno com o Bloco, o PCP e os Verdes. Basta recordar um exemplo: o plano do PS previa utilizar reduções na TSU como principal instrumento de estímulo ao crescimento económico; os “protocolos de entendimento” recusaram essa política, substituindo-a por uma simples distribuição de benesses pelas clientelas mais poderosas, com os funcionários públicos à cabeça. Nesse momento todo a lógica interna das “contas” ruiu pela base.

Se já era duvidoso que as estimativas dos economistas do PS batessem certo, as contas da geringonça estavam totalmente desequilibradas, pois só previam aumentos de despesa e cortes nas receitas.

Esperámos por isso, com natural curiosidade, pelo “esboço de orçamento” que teria de ser enviado para Bruxelas, e ele caiu-nos nos braços dois dias antes das eleições presidenciais. Caiu ele e cairam também as criticas unânimes das entidades independentes que se deviam pronunciar, do Conselho de Finanças Públicas à UTAO. Não há memória de documentos tão arrasadores para uma proposta orçamental vindos de entidades tão diferentes e tão respeitadas.

Sem surpresa, depressa percebemos que o problema não estava no eventual erro de miopia de todos quantos em Portugal se pronunciaram sobre o dito “esboço”. Em Bruxelas o choque foi frontal. Tão frontal que, passada apenas uma dúzia de dias sobre a entrega desse esboço, as notícias esparsas que nos vão chegando apontam para que dele já pouco restará. Foi sendo estraçalhado em boa parte das suas metas e indicadores.

Só para se ter uma ideia de como as coisas evoluíram basta recordar que as “contas” dos economistas do PS apontavam para um crescimento de 2,4% da economia em 2016, o Programa do Governo desceu essa previsão para 2,2%, o “esboço” encolheu-a ainda mais para 2,1% e agora estará nos 1,9% e toda a gente continua a dizer que é irrealista. Aconteceu o mesmo com todos os outros grandes números, o que mostra a pouca seriedade e o nenhum rigor das “contas” que nos têm vindo a ser apresentadas.

Ao mesmo tempo que assistíamos a este desnorte, e à consequente descredibilização dos sucessivos exercícios contabilísticos, abrimos a boca de espanto com a estratégia de afrontamento seguida pelo governo português, e pela maioria que o apoia, relativamente às instâncias da União Europeia. Tudo indica que, para a equipa de António Costa, a Comissão é um bando de burocratas que se pode tratar displicentemente e desqualificar politicamente.

Vou dar apenas dois exemplos, que mostram bem um tipo de comportamento que tenho dificuldade em classificar (será arrogância? será incompetência? será apenas ignorância?). O primeiro é a entrevista que Costa deu ao Financial Times. Nela diz, a certa altura, que uma redução do défice estrutural de 0,2% será maior dos últimos anos, uma boutade que só pode ter deixado boquiabertos os técnicos que, na Comissão Europeia, seguem de perto a realidade portuguesa e têm o Financial Times nas suas secretárias logo pela manhã. É que a média da redução do saldo estrutural dos últimos anos é de 1,4 pontos percentuais, um número bem conhecido por esses técnicos, pelo que um erro tão flagrante por parte de um primeiro-ministro só poder ter funcionado como a pior carta de recomendação no início de umas negociações difíceis.

O segundo exemplo também fala por si. É que, ao enviar para Bruxelas o seu “esboço”, o Governo esqueceu-se de informar que, pelo caminho, estava a alterar os critérios para o cálculo do défice estrutural (valha ele o que valer, e até admito que valha pouco). Pior: estava a alterar critérios que tinham sido negociados entre Bruxelas e Lisboa sem dizer nada em Bruxelas e vindo para Lisboa acusar o anterior Governo de ter enganado a Comissão Europeia. Nessa altura, nas reuniões técnicas, só faltaram os insultos para colorir o choque frontal.

Um ano depois de ter assistido ao drama grego custa a crer que, na equipa de Costa e entre os seus acólitos de extrema-esquerda, se acreditasse ainda que a melhor forma de lidar com as instituições comunitárias fosse a afronta e o desafio, a ameaça do “murro na mesa”. Ou mesmo, mais modestamente, que se pensasse que a melhor forma de obter bons resultados fosse trazer para a praça pública o debate, fingir que tudo não se limitava detalhes técnicos ou tentar passar a mensagem de que o processo ia pelo melhor quando, afinal, tudo corria pelo pior.

A cereja em cima deste bolo foi a adopção, para consumo doméstico, de um discurso autoritário, demagógico e desavergonhado. As críticas, mesmo as vindas de entendidades independentes e respeitáveis, começaram a ser descartadas como traições à pátria. Aos pedidos de explicações sobre tanta confusão e tanto número sem justificação, respondeu-se com um seco “deixem o governo trabalhar” e a recusa em sequer encarar as questões dos jornalistas. A própria existência de um debate público e a ocorrência de divergências, próprias de qualquer sociedade aberta, foi enquadrada como representando a acção de uma sombria “quinta coluna” ao serviço dos alemães. Até as instituições europeias não escaparam, com altos responsáveis a compararem a Europa a uma URSS a que só faltaria o KGB e a acrescentarem que os seus técnicos estavam ao serviço da direita europeia.

O registo adoptado pelo primeiro-ministro e pela maioria que o apoia no último debate quinzenal teve mesmo o condão de nos reconduzir aos tempos de José Sócrates, mas em pior: a mistificação foi moeda corrente, a verdade um detalhe sacrificada ao argumento de ocasião, a desvergonha só comparável à ausência de memória, tudo coisas que eram habituais no grande timoneiro da bancarrota, só que agora em versão degradada, género filme série B, poiso antigo PM ainda estudava os dossiers e Costa não se dá a esse trabalho, sendo que Teixeira dos Santos ao lado de Mário Centeno até lembra um Príncipe da Renascença.

De novo apenas um exemplo para se ter ideia da desonestidade dos argumentos utilizados no debate: pretendeu-se dizer que os cortes salariais na administração pública tinham sido apresentados em Bruxelas como “estruturais” e em Lisboa como “temporários” pelo anterior governo, quando esses cortes começaram com José Sócrates no PEC3, eram reforçados no famoso PEC4 (aquele que alguns ainda veneram como se venera uma sagrada escritura) e sempre foram tratados, em Lisboa e em Bruxelas, com Sócrates ou com Passos Coelho, da mesma forma. Agora dá jeito um flick flack contabilístico, pelo que a melhor forma de o camuflar é chamar mentiroso aos outros com a mesma lata do ladrão que grita “agarra que é ladrão”.

Falta-nos ver o resultado final de todos estes malabarismos, assim como os pareceres que as instituições internacionais produzirão. Teme-se o pior. Teme-se sobretudo que os nossos grandes patriotas estejam a criar as condições para que, mesmo fazendo agora passar o seu orçamento, vejam depois degradarem-se as avaliações das agências de rating, o que terá consequências catastróficas para um país que, nos próximos anos, terá de ir ao mercado buscar 43 mil milhões de euros para se financiar.

Há, contudo, alguns adquiridos que a análise mais fina do documento final por certo não desmentirá.

O primeiro adquirido é que estaremos perante um exercício orçamental irrealista, com metas que não são para cumprir. Já houve quem, com mais competência, o explicasse em detalhe, mas não custa compreender como se chega aquilo a que já chamaram o “orçamento Photoshop”: o objectivo desta equipa não é o bom governo de Portugal, é ganhar umas eleições que todos pensam surgirão bem antes do fim da legislatura. Por hoje, aguenta-se a geringonça à custa de concessões ao Bloco e ao PCP, reza-se para que os buracos nas contas só apareçam lá mais para o fim do ano e adiam-se os problemas para o Orçamento de 2017. Pelo caminho espera-se que, satisfazendo as clientelas, estas retribuam com o votinho na urna.

É assim que o “governo do desfazer” se prepara, por exemplo, para gastar mais dinheiro com a devolução dos cortes salariais aos funcionários públicos mais bem pagos do que com o descongelamento das pensões mais baixas. Não está mal para um governo “de esquerda” cheio de “sensibilidade social”, mas é coerente com a percepção de que as clientelas que assim vão ser beneficiadas são as mais influentes e as melhor representadas pela CGTP.

É assim também que os mesmo que enchem a boca com a palavra “igualdade” se preparam para repor a desigualdade entre o regime laboral na administração pública (onde voltaremos às 35 horas) e no sector privado (onde a regra é a das 40 horas).

É ainda assim que o Governo que jura que não vai tocar no rendimento das famílias se prepara para aumentar a carga fiscal em bens, como os combustíveis, que afectarão as despesas das famílias, tirando com uma mão o que dá com a outra e fazendo cara de pau. Tal como é assim que o Governo que diz tudo querer fazer pelo crescimento opta por virar as baterias do Fisco contra a banca sem reparar que, ao mesmo tempo, lamenta a falta de capacidade dessa mesma banca para financiar a economia.

Quando aqui chegamos já estamos muito para lá de discutirmos a austeridade, ou esse slogan cada vez mais vazio do “virar de página da austeridade” – o que começamos a discutir é mesmo quanto tempo de repetição de erros do passado será necessário para que acabemos da mesma forma como acabámos no passado. É isso mesmo que todos nos estão a dizer, sejam eles os respeitáveis académicos do Conselho de Finanças Públicas, os técnicos das instituições internacionais ou osanalistas dos mercados. Por uma vez, parecem estar todos de acordo – mas para o comandante e para os adjuntos deste nosso Titanic, estão todos errados, pois só eles é que têm razão.

Pobres de nós, que já vimos este filme.»

30 de janeiro de 2016

"Não há paciência"



É o que diz aqui Helena Matos, e eu estou totalmente de acordo. 

«Eu sei que devia escrever sobre o orçamento ou, mais pertinente ainda, sobre a queda em desgraça do Tribunal Constitucional que se limitou a decidir como sempre fez ao longo destes últimos anos – protegendo os membros da corporação Estado – mas que desta vez, e ao contrário do que tem acontecido, acabou criticado por quase todos. Mas o que tenho para escrever sobre o assunto ainda acaba a colidir com a assepsia do dia de reflexão e longe de mim perturbar voluntaria ou involuntariamente a reflexão de quem quer que seja. Presumo até que por estas horas, sentadinhos em tapetes, no cimo de serras e nas profundezas das grutas milhares de portugueses em posição de lótus procuram avaliar as diferentes propostas eleitorais. Que não acabem com o cérebro e as costas feitos num oito é o que lhes desejo. E foi assim que, de assunto em assunto, acabei noutra eleição ou mais propriamente nos óscares, cerimónia regra geral aborrecida para todos os mortais à excepção dos candidatos mas que acabou transformada em acontecimento mundial.

Os óscares ganharam agora outro foco além do cinematográfico propriamente dito. Trata-se da cor da pele e do sexo dos nomeados. Enfim o cinema é uma indústria e a indignação também e cada um faz nessas indústrias o que quer ou pode para ganhar a vida. Mas à liberdade dos senhores Will Smith e Spike Lee de dizerem e fazerem o que lhes apetece – nomeadamente o anúncio de que não participarão na cerimónia dos óscares por só terem sido nomeados actores no dizer deles caucasianos (confesso que no caso do Stallone após tantas operações e tanto botox nem consigo garantir que ele seja humano, quanto mais caucasiano ou asiático!) – corresponde o direito dos outros lhes responderem que boa parte do que dizem não passam de rotundas parvoíces.

Mas vamos ao assunto propriamente dito: este ano não há negros entre os actores candidatos aos óscares. Por acaso também não vislumbrei por lá nenhum chinês, ou melhor dizendo asiático. Claro que também não há mulheres gordas nem feias. E quanto a idades seríamos levados a acreditar que o sexo feminino desaparece da face da Terra passados os 35 não fossem estar candidatas as anciãs Cate Blanchet (nasceu em 1969) e Charlotte Rampling, que veio ao mundo em 1946 e a quem as declarações que fez sobre este assunto – “racismo contra brancos” – devem ter feito perder qualquer possibilidade de ganhar a estatueta (isto apesar de Charlotte Rampling se ter apressado a pedir desculpa e dizer que foi mal interpretada).

A questão racial tornou-se o mais patético exercício de promoção do coitadismo, sobretudo entre os negros norte-americanos. que é o mesmo que dizer que em todo o mundo a que chegue a televisão. O que não fazem ou não conseguem é invariavelmente o resultado do racismo e nunca do seu não esforço ou desinteresse. Em Portugal, temos nesta matéria o incontornável paradoxo de se explicar com o racismo e os problemas associados à imigração os fracos resultados escolares dos alunos ditos africanos. Note-se que a não ser que a Amadora ou Moscavide fiquem em África não há razão alguma, a não ser a cor da pele, para que se chamem africanos a estes jovens nascidos em Portugal, frequentemente filhos de pais nascidos também em Portugal. Curiosamente ninguém se interroga sobre os brilhantes resultados escolares dos filhos dos ucranianos, que pouco tempo depois de chegarem a Portugal se tornam nos melhores alunos das suas turmas.

Sob o silêncio em torno deste assunto, nomeadamente o silêncio de muitas daquelas associações que vivem de denunciar o racismo e que na minha opinião em vez de o combater o promovem, guetizando ainda mais aqueles que deviam integrar, esconde-se um arreigado paternalismo, esse sim racista, que na prática se traduz por isto: os ucranianos são brancos, têm olhos azuis e para mais vieram daquele caldeirão do ex-mundo comunista, logo politicamente não interessam a ninguém. Pelo contrário os negros (e agora também os muçulmanos) vivem mediaticamente falando sob a tutela da esquerda. Esta primeiro quis libertar África. Transformadas essas libertações em embaraçosíssimas ditaduras, entende agora a esquerda que há-de transformar no seu novo eleitorado essa multidão, que em boa parte teve de deixar África porque as tais libertações só produziram miséria. Com as classes trabalhadoras a descrerem cada vez mais das virtudes do socialismo, promover o ressentimento e o assistencialismo numa população para mais jovem é uma boa forma de garantir os votos por largos anos.

Nos EUA temos a juntar a tudo isto Hollywood e o puritanismo. Assim, com aquele frenesi que os levou à Lei Seca e destrambelhos quejandos, atiram-se agora às questões que se dizem de género e a tudo o que vagamente possa ser relacionado com o racismo. Há de tudo e para todos os gostos. Como não é humanamente possível seguir todos os racismos por ali denunciados resolvi focar-me na problemática dos homens asiáticos que denunciam que o cinema os discrimina. Porquê? Entre outras coisas porque nunca são vistos como desejáveis pelas mulheres brancas! A esta assexualização dos homens corresponde, segundo os promotores desta causa, uma sexualização das mulheres asiáticas. Enfim acabaremos literalmente a discutir a cor dos anjos mas não quero sair deste assunto sem lançar eu mesma uma outra causa: a das mulheres brancas que nos filmes ficam sempre a perder para as asiáticas que, para lá doutras vantagens estéticas, são sempre enaltecidas pelos guionistas, homens obviamente, porque não falam: nos filmes ocidentais as mulheres asiáticas aparecem invariavelmente como seres de poucas ou nenhumas palavras. Ora uma mulher silenciosa, ou mais propriamente uma mulher que não lhes diga a verdade, é o sonho de qualquer criatura do sexo masculino nascida no Ocidente. E assim esta minha causa junta não só o combate ao racismo face às mulheres asiáticas, mais o racismo perante as mulheres brancas como ainda combate o machismo dos homens ocidentais. Fantástico não é? Ainda acabo nos óscares!

Quero acreditar que a histeria terminará. Que um dia seremos capazes de reflectir sobre o proselitismo que levou a situações tão aberrantes quanto a vivida em Rotherham, Inglaterra: em pleno século XXI, 1400 crianças que estavam sob a tutela dos serviços sociais foram abusadas sexualmente. Os abusos duraram anos. O facto de os abusadores serem de origem paquistanesa levou a que durante anos e anos não só não se fizesse nada para acabar com aquele pesadelo como os poucos que o tentaram denunciar acabaram a ser confrontados com acusações de racismo e desadequação aos valores multiculturais.

A falta de destaque noticioso sobre o caso de Rotherham, que contrasta por exemplo com a indignação com os abusos sexuais levados a cabo sobretudo no século passado por sacerdotes católicos, é sintomática da hipocrisia que reina nesta matéria, hipocrisia que ela sim é uma forma de racismo. Porque uma violação é uma violação independentemente de quem a pratica e de quem a sofre.

E agora ou escrevo sobre o sucedido em Colónia ou, opção bem mais interessante, sugiro que nas intermitências da empastelada noite dos óscares vejam um filme. Chama-se Cowboys. É de 1972 e tem como principal protagonista um John Wayne já velho o que não lhe tira nada daquele sugestivo andar que ninguém explicou tão bem enquanto símbolo da  masculinidade quanto o actor Nathan Lane na Gaiola das Malucas.

Mas voltando a Cowboys a história nem é muito original: Wil Andersen(Wayne) um rancheiro para quem a vida não deve ter sido meiga vê-se por circunstâncias várias à frente de um grupo de rapazes, os cowboys possíveis já que os homens adultos tinham desaparecido em mais uma corrida ao ouro. Wil Andersen (Wayne) tem de levar a sua manada para um local que fica a 650 quilómetros. É fácil perceber que a viagem se transforma num ritual de passagem dos rapazes para o mundo dos adultos.

Contudo o filme não é hoje propriamente considerado uma fita familiar. Antes pelo contrário. Ora porque Wil Andersen (Wayne) tem um entendimento da educação dos rapazes nada consentâneo com as pedagogias de hoje, ora porque reproduz todos os estereótipos da masculinidade e, cereja no topo do bolo, porque a palavra nigger é pronunciada no filme a propósito do cozinheiro Jebediah Nightlinger interpretado por Roscoe Lee Browne. Perante o primeiro negro que viam na sua vida os miúdos não só proferem nigger várias vezes como pretendem saber se aquela negritude abrange todas as partes do seu corpo.

E assim os jovens de hoje podem ver filmes com sexo, violência e consumo de drogas à vontade mas claro nenhum adulto responsável pode gritar com eles como faz Wil Andersen (Wayne) no filme e claro que os negros passaram a afro-americanos, os chineses a asiáticos e por aí fora.

Perante o desconchavo de tudo isto só apetece recuperar a resposta de Roscoe Lee Browne, sim o mesmo que faz de cozinheiro em Cowboys e que era um notável intérprete de poesia e textos clássicos e dono de uma dicção fabulosa, àqueles que o acusavam de ter uma voz demasiado branca: “Peço desculpa tivemos uma mulher a dias branca.»