30 de dezembro de 2015

Ainda sobre a aritmética ideológico-doutrinária contada às crianças e lembrada ao povo



Há exactamente três semanas, escrevi isto aqui, no blog.

Fiz um cálculo por alto, uma vez que não me dei ao trabalho de verificar os números relativos à população activa em Portugal, limitando-me aos que tinha lido algures.

Face, porém, ao que afirmou o sr. ministro Vieira da Silva, procurei ser rigoroso. E dou a mão à palmatória: enganei-me.

Porque a população activa no país é de (números oficiais relativos a 2014) 5225600 trabalhadores, a percentagem que indiquei, de 12,5%, está errada. Ela rondará, sim, os 12,44%.

As minhas desculpas e poupem-me o resto.

Numa newsletter do Observador...


René Magritte, A ligação perigosa


... escreveu José Manuel Fernandes:

Foram dias tranquilos – ou quase. Quem vive há muito tempo a lufa-a-lufa das redações sabe que é frequente a actualidade pregar partidas por alturas do Natal. Assim, de repente, recordo-me do tsunami de 2004, da tempestade que deixou sem electricidade no dia de Natal milhares de lares na zona de Torres Vedras em 2009, da demissão de Guterres em 2001 (esta poucos dias antes do Natal), da renúncia de Gorbatchov em 1991 (precisamente no dia de Natal), da execução dos Ceausescu em 1989, da invasão do Afeganistão em 1979 e por aí adiante. Este ano não houve assim “grandes notícias”, apesar do Banif, apenas alguns temas que, muito justamente, mobilizaram as nossas atenções. Entre todos eles, destaque para a discussão sobre as circunstâncias da morte de David Duarte no Hospital de São José.

É sabido como temas como este – a ocorrência de uma morte que, teoricamente, poderia ter sido evitada se uma equipa médica tivesse realizado uma operação de urgência – são capazes de acender paixões. Não vamos por aí, até porque há ainda demasiadas questões por esclarecer para que se possam tirar conclusões. Algumas delas suscitadas nos textos que cito a seguir.

A primeira reflexão para que chamo a atenção é a de Paulo Baldaia, no Diário de Notícias: 
Hipócrates. É um texto que deixa três perguntas que me pareceram especialmente pertinentes:
1 - Fontes hospitalares garantem que a morte de David Duarte foi a quinta, desde que deixou de haver equipa ao fim-de-semana. O que levou médicos e enfermeiros a não denunciarem cada uma destas mortes, procurando assim evitar as que se seguiram?
2 - Tendo já havido quatro mortes por não resistirem à espera do fim-de-semana e sabendo a gravidade do estado de saúde de David Duarte, por que razão não foi chamada de urgência uma equipa para o operar?
3 - Já depois dos cortes correspondentes a cerca de 50%, por cada dia de piquete, um enfermeiro recebia 130 euros e um médico 250, mesmo que não tivessem de ir ao hospital se não houvesse cirurgias para fazer. Morreram cinco pessoas "em consequência dos cortes cegos, insensatos e absurdos" como acusa o bastonário dos médicos, José Manuel Silva?

Na verdade, como referiu o novo ministro da Saúde (e bem podia ter ido por outro caminho), o que se passou com David Duarte não pode ser resumido a uma questão económico-financeira ou à habitual conversa sobre “cortes”. Por isso vale a pena dar a palavra a dois médicos, por coincidência ambos médicos patologistas, que produziram reflexões interessantes aqui no Observador e no blogue Defender o Quadrado:
  • S. José ou a irresponsabilidade, de Luís Carvalho Rodrigues: “O ministro, o presidente da ARS e as administrações hospitalares não podem furtar-se a responsabilidades. Mas acho estranho que os responsáveis pelos serviços e pelas equipas presentes naquele fim de semana se mantenham agora calados e invisíveis. Claro que haverá inquérito, apuramento de factos e contraditório. Todos terão argumentos e justificações. E é assim que deve ser. Mas é difícil fugir a uma ideia essencial: quem se refugia atrás de “ordens superiores” em casos como este não merece ocupar o lugar que ocupa.”
  • Da responsabilidade colectiva, de Sofia Loureiro dos Santos: “A forma como se actuou na saúde, aliás como em muitos outros sectores, foi criminosa. Mas os cortes existiram em todo o País, pelo que não pode ser apenas essa a justificação de tanta incúria e desleixo. O sistema falhou não uma mas, pelo menos, 4 vezes e ninguém atuou nem ao fim da primeira, nem da segunda, nem da terceira, nem da quarta. E a única razão de ter sido divulgada agora é a existência de uma queixa dos familiares da última vítima, um homem de 29 anos. É demasiado mau, demasiado grave, demasiado triste, demasiado assustador.”
  • SNS eficaz e sustentável - concentração das equipas, da mesma Sofia Loureiro dos Santos: “Se calhar não haveria necessidade de ter 3 ou 4 centros hospitalares na Grande Lisboa (…) com equipas de urgência a funcionar em prevenção. Porque não haver uma ou 2 equipas formadas por médicos, enfermeiros e técnicos que pudessem usar um ou os vários centros hospitalares, conforme fosse mais exequível? Estou apenas a dar um exemplo, não faço ideia se seria uma boa solução, mas a verdade é que provavelmente não se justifica ter equipas de cirurgia neurovascular (ou de outras especialidades) em todas as unidades hospitalares.”


Por fim, duas reflexões mais políticas, a primeira das quais de crítica ao aproveitamento político deste caso na campanha das presidenciais: 
Os saudáveis populistas, de Helena Matos, aqui no Observador:
Pensam estes candidatos à Presidência da República recorrer ao SNS quando tiverem problemas de saúde? Caso respondam afirmativamente, estimam viver quantos anos mais? É que para falar deste modo, como se não houvesse amanhã, tem de se estar dotado da forte convicção (eu diria antes fé) de que se vai gozar de uma saúde de ferro até àquele derradeiro momento em que a bondade de uma morte súbita porá fim a vida tão saudável. (De caminho também é indispensável estar disposto a descer moralmente muito para subir um pouco mais nas sondagens, mas esse é outro assunto.) Afinal a quem não sabe que morte o espera e de que doenças vai sofrer restas apenas uma pragmática certeza: todos podemos acabar num hospital. Que este se organize em função dos doentes ou das questões contratuais do seu pessoal não é a mesma coisa.

A outra remete apenas para o bom senso: é a de Francisco Sarsfield Cabral, na Rádio Renascença, 
Conhecer a verdade: “É fácil, mas demagógico e desonesto, concluir que a culpa da morte no S. José é dos cortes no financiamento da saúde. O ministro da Saúde do governo de Costa foi mais sério e referiu problemas de organização e gestão, que não acontecem no Norte e no Centro do país.”

28 de dezembro de 2015

História islâmica do Pai Natal e O Comboio das Prendas





De um novo texto de António Justo, destaco o que se segue:

«O Governo da Somália proibiu que se festeje o Natal. O ministro Sheikh Mohamed Kheyroow deu ordem às forças de segurança para impedirem festas de Natal em todo o país. O ministro anunciou o decreto no dia anterior ao Natal na rádio Mogadishu.

Enquanto a cristandade, na Europa, procura pôr em prática a solidariedade cristã com os muçulmanos abrindo-lhes as portas, os cristãos são descriminados e até perseguidos nos países de religião muçulmana maioritária; Também no BURNEI foi proibido festejar o Natal com o argumento de pôr em risco a “fé dos muçulmanos”!

Nos centros do poder não há coisa mais incómoda e atemorizadora, para os seus detentores, do que um bebé na gruta que inverte a perspectiva de consideração do poder.

POLÍTICA DE CLIENTELA – FAMILIARES DE TRABALHADORES DA CP COM TRANSPORTE GRATUITO

No sentido do novo governo, a Comboios de Portugal (CP) concede, a partir de 1.01.2016, o acesso gratuito às viagens de comboio dos trabalhadores no activo, cônjuges e filhos (até 25 anos) e aos trabalhadores reformados. Atendendo aos bons ordenados dos trabalhadores da CP em relação a outros trabalhadores portugueses, torna-se questionável tal medida (natural para eles mas não para a família), dado quem paga a gratuitidade das viagens dos familiares dos trabalhadores da CP serem os contribuintes e os outros clientes da CP que têm de comprar os bilhetes mais caros.

Seguindo a mesma lógica, os empregados bancários e familiares não precisariam de pagar juros, os professores e empregados do Estado deveriam ser isentos de impostos, etc. O mesmo desperdício e irresponsabilidade se encontra no que toca à utilização das viaturas do estado muitas vezes utilizadas privadamente.

Menos partidária seria uma medida em que as viagens de alunos e estudantes fossem gratuitas. Isto fomenta a realidade de que para muitos o Estado se torna para muitos numa vaca leiteira. (...)»

A BANDA, de Chico Buarque... alter




O BANDO

Estava à toa na classe o professor me chamou
Pra me lobotomizar, me transformar num robô
Me encheu de frase de efeito destilando rancor
Pra me lobotomizar, me transformar num robô

O mensaleiro que contava dinheiro parou
E o blogueiro que levava vantagens pirou
A Namorada que gostava de Beagle
Parou para retocar a maquiagem

O Sakamoto que odiava o sistema curtiu
A Marilena que andava sumida Chauiu
A esquerdalha toda se assanhou
Pra me lobotomizar, me transformar num robô

Estava à toa na classe o professor me chamou
Pra me lobotomizar, me transformar num robô
Me encheu de frase de efeito destilando rancor
Pra me lobotomizar, me transformar num robô

Não tive saco pra encarar Bakunin nem Foucault
Gosto do Chico e acho que ele é um grande cantor
O Professor falou que a coisa mais bela
Era explodir bomba feito o Marighella

A Marcha rubra se espalhou e a direita não viu
O Paulo Freire virou santo e fodeu com o Brasil
A Faculdade toda se enfeitou
Pra me lobotomizar, me transformar num robô

Eu vi que o capitalismo era feio e cruel
Eu vi que em Cuba era bom e que eu amava o Fidel
Anotei tudo no iPad e pus no computador
Depois eu vou te ensinar porque eu virei professor

19 de dezembro de 2015

O "Mein Kampf" e o Alcorão



Publicou António Justo, no seu Pegadas do Tempo, este texto, que julgo merecer ser lido com toda a atenção. 

EDIÇÃO COMENTADA DO LIVRO DE HITLER “MINHA LUTA” (MEIN KAMPF)

Dois Pesos e duas Medidas – Anotações preventivas contra o Fascismo

70 anos depois do fascismo nazista, é permitida, a partir de 31.12.2015, a reedição da sua cartilha, na Alemanha.  Até à morte de Hitler tinham sido publicados 12 milhões de exemplares.Desde então a publicação de Mein Kampf ficou interdita.

Entre o dia 1 e 8 de Janeiro de 2016, vai ser publicado o livro de Hitler "Mein Kampf" (Minha Luta), com 3.500 anotações; os comentários destinam-se a precaver os jovens contra a ideologia nazista (ideias antissemitas, racistas e nacional-socialistas).

Por outro lado, continua a não se exigir anotações nem comentários ao Corão, embora este apele 27 vezes ao assassinato/perseguição de não-muçulmanos, contenha instruções para a subjugação das mulheres (1), afirme a discriminação e inferioridade dos não crentes muçulmanos, pregue a hostilidade para com os judeus e defenda a hegemonia muçulmana.

O historiador Christian Hartmann, do Instituto de História Contemporânea de Munique, espera que, com os 3500 comentários/anotações ao texto, poderá dizer que “‘Mein Kampf’ é uma granada velha e ferrugenta da qual tirámos o explosivo”. A edição sai com o título “Hitler, Meu Combate – Uma Edição Crítica„, em dois volumes e com o preço de 59€.


É oportuno lembrar que os nossos jovens não só devem ser protegidos contra a ideologia nazista, como também contra o fascismo religioso, tal como se expressa num Corão não comentado. O fa
cto de o fascismo ocorrer neste em traje religioso não pode ser considerado carta-branca nem tabu.

Qualquer pessoa familiarizada com a história islâmica sabe como Mohammed se comportava e que é tomado como exemplo a ser imitado, e como os terroristas muçulmanos se apresentam como os verdadeiros seguidores das prescrições do Corão; apesar de tudo isto, também os média continuam a considerá-lo inviolável. O Corão deveria possuir comentários tal como agora acontece com o livro de Hitler, a fim de reduzir o seu efeito de sedução sobre os jovens. A credibilidade da política deixa tudo a desejar neste ponto, onde não é permitida qualquer objectividade. A classe política e intelectual (que deveria conhecer bem “O Meu Combate” e o Corão, apresenta-se contraditória proibindo num lugar o que no outro se afirma. Com a sua indiferença torna-se cúmplice com os mais conservadores islâmicos, motivando os radicais em prejuízo dos reformistas.

A Política e a Sociedade cada vez se distanciam mais uma da outra, dado os políticos darem a impressão de terem menos conhecimento objectivo sobre o Corão, e do que ele não comentado causa, do que parte da população. É preciso motivar os muçulmanos de boa vontade a reformar o Islão, começando por exigir anotações às suras do Corão e motivar a abordagem teológica histórico-crítica sobre Maomé, sobre o Corão, sobre os ensinamentos do profeta e sobre a Sharia.

A História parece demonstrar que a consciência de povos e estados, mais que por princípios éticos, é determinada pelas realidades económicas e por interesses de poder, não sendo considerado como adulterada uma prática (moral) que os justifica, a não ser por pessoas mais sensíveis!

(1)      Na Arábia Saudita, atenta ao cumprimento do Islão, a posse de uma Bíblia é considerada crime; não é permitido às mulheres conduzir um carro nem navegar na Internet, nem lhes é permitido trabalhar, estudar ou viajar sem o consentimento de um protector masculino.

18 de dezembro de 2015

"Filhos do 25 de Abril"



Fizeram-me chegar por e-mail este texto de Pedro Bidarra, publicado em 26/04/2013, no Dinheiro Vivo. Não estando em total acordo com o que nele é dito, julgo que tem, no entanto, algumas considerações bastante pertinentes, pelo que o deixo aqui.
   
«A geração que fez o 25 de Abril era filha do outro regime. Era filha da ditadura, da falta de liberdade, da pobre e permanente austeridade e da 4.ª classe antiga.

Tinha crescido na contenção, na disciplina, na poupança e a saber (os que à escola tinham acesso) Português e Matemática.

A minha geração era adolescente no 25 de Abril, o que sendo bom para a adolescência foi mau para a geração.

Enquanto os mais velhos conheceram dois mundos – os que hoje são avós e saem à rua para comemorar ou ficam em casa a maldizer o dia em que lhes aconteceu uma revolução – nós nascemos logo num mundo de farra e de festa, num mundo de sexo, drogas e rock & roll, num mundo de aulas sem faltas e de hooliganismo juvenil em tudo semelhante ao das claques futebolísticas mas sob cores ideológicas e partidárias. O hedonismo foi-nos decretado como filosofia ainda não tínhamos nem barba nem mamas.

A grande descoberta da minha geração foi a opinião: a opinião como princípio e fim de tudo. Não a informação, o saber, os factos, os números. Não o fazer, o construir, o trabalhar, o ajudar. A opinião foi o deus da minha geração. Veio com a liberdade, e ainda bem, mas foi entregue por decreto a adolescentes e logo misturada com laxismo, falta de disciplina, irresponsabilidade e passagens administrativas.

Eu acho que minha geração é a geração do “eu acho”. É a que tem controlado o poder desde Durão Barroso. É a geração deste primeiro-ministro, deste ministro das Finanças e do anterior primeiro-ministro. E dos principais directores dos media. E do Bloco de Esquerda e do CDS. E dos empresários do parecer – que não do fazer.

É uma geração que apenas teve sonhos de desfrute ao contrário da outra que sonhou com a liberdade, o desenvolvimento e a cidadania. É uma geração sem biblioteca, nem sala de aula mas com muita RGA e café. É uma geração de amigos e conhecidos e compinchas e companheiros de copos e de praia. É a geração da adolescência sem fim. Eu sei do que falo porque faço parte desta geração.

Uma geração feita para as artes, para a escrita, para a conversa, para a música e para a viagem. É uma geração de diletantes, de amadores e amantes. Foi feita para ser nova para sempre e por isso esgotou-se quando a juventude acabou. Deu bons músicos, bons actores, bons desportistas, bons artistas. E drogaditos. Mas não deu nenhum bom político, nem nenhum grande empresário. Talvez porque o hedonismo e a diletância, coisas boas para a escrita e para as artes, não sejam os melhores valores para actividades que necessitam disciplina, trabalho, cultura e honestidade; valores, de algum modo, pouco pertinentes durante aqueles anos de festa.

Eu não confio na minha geração nem para se governar a ela própria quanto mais para governar o país. O pior é que temo pela que se segue. Uma geração que tem mais gente formada, mais gente educada mas que tem como exemplos paternos Durão Barroso, Santana Lopes, José Sócrates, Passos Coelho, António J. Seguro, João Semedo e companhia. A geração que aí vem teve-nos como professores. Vai ser preciso um milagre. Ou então teremos que ressuscitar os velhos. Um milagre, lá está.»

15 de dezembro de 2015

Grande Arnaldo Kim Il-sung Matos



«Não são fanáticos: são franceses patriotas em luta contra o imperialismo francês», acrescenta o líder do MRPP.


Mas o MRPP vai mais longe e diz-nos como entende a morte de uma centena de pessoas «que julgam ter o direito de se poderem divertir impunemente no Bataclan»: «atenção: não só não foi um massacre, como foi um acto legítimo de guerra». Aqui.

14 de dezembro de 2015

"Metro de Lisboa - A notícia que interessava: a que não foi feita"




A que, segundo o que Helena Matos diz, no Observador, seria esta (e eu estou de acordo com ela):

«Alguém sabe por que não houve greve do Metro em Lisboa? Durante dias andámos às voltas com a contestação dos maquinistas do Metro de Lisboa “a um conjunto de alterações que representam um ataque aos direitos dos trabalhadores e a degradação da qualidade do serviço prestado aos utentes“.

Mas quais eram essas alterações? E em que consistia essa degradação? Nunca soubemos. A sindicalista Anabela Carvalheira da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans) e funcionária do Metro de Lisboa, nada disse e também ninguém lhe perguntou. Depois a greve foi desconvocada. Novamente Anabela Carvalheira nos deu os respectivos esclarecimentos em cifra, agora poética: “Chegámos a um entendimento. Somos todos pessoas sérias. Da mesma forma que secretaria [de Estado] chegou a acordo [em relação] àquilo que nós propusemos – e não trouxemos nenhum documento escrito –, da mesma forma acreditamos nos interlocutores. Para nós vale a palavra, que foi coisa que não tivemos nos últimos cinco anos”. É sem dúvida tocante que sejam “todos pessoas sérias”.

Confesso que não percebo bem a parte do “não trouxemos nenhum documento escrito” mas esta aversão a documentos escritos parece agora fazer parte da linha oficial do PCP de cuja Organização Regional de Lisboa (sector de Transportes) Anabela Carvalheira faz parte há largos anos.

Já o secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, José Mendes, deu uma explicação que tanto serve para a greve do Metro como para uma sessão de alinhamento dos chakras de um casal desavindo: “Havia uma espécie de um muro de silêncio. Os trabalhadores tinham alguma dificuldade em fazer passar a sua mensagem, as suas reivindicações, e foi possível desde logo abrir uma janela de diálogo e acordar com os sindicatos que vamos começar um processo estruturado de negociações e de conversas que possa ajudar a que os diferentes pontos de vista possam convergir para resolvermos os problemas”.

O ministro Vieira da Silva alinhou pelo mesmo parâmetro do esotérico-afectivo: “O ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, comentou esta segunda-feira, a propósito da desconvocação da greve parcial pelos trabalhadores do Metropolitano de Lisboa, que provavelmente os sindicatos têm mais abertura perante este Governo.”

Sem querer desmerecer na auto-estima de Vieira da Silva, nomeadamente na convicção que ele mostra nos poderes da simpatia emanada pela sua pessoa e até percebendo eu a dificuldade experimentada pelos sindicalistas em darem desgostos a um ministro que tem como colega de executivo um membro do seu agregado familiar – quem sabe não se instala um muro de silêncio à mesa do jantar? – o senhor ministro ou está a gozar connosco ou está amnésico. Como eu quero acreditar na segunda hipótese, a amnésia, recomendo ao senhor ministro Vieira da Silva e já agora também ao senhor secretário de Estado do Ambiente, que tanta fé manifesta nas virtudes do pensamento positivo aplicado às negociações com os sindicatos do sector dos transportes, que releiam o Avante nº 1731 publicado a 1 de Fevereiro, de 2007 em que a sindicalista Anabela Carvalheira (what else?) explica porque “desde Junho de 2006, ocorreram no Metropolitano de Lisboa dez greves”. Como o agora ministro Vieira da Silva também era ministro nesse tempo não deve estar esquecido dessa sucessão de greves, pois não?

Na verdade seja em 2006, 2007 ou 2015 nunca percebemos porque se fazem greves nas empresas públicas. Muito menos porque são elas desconvocadas e convocadas outra vez. No meio da língua de pau que rodeia as negociações sindicais em Portugal já nos aconteceu sermos informados que um governo se comprometera a ceder a um grupo de trabalhadores 20% de uma empresa quando ela fosse privatizada – caso dos pilotos da TAP versus ministro Cravinho em 1999 – ou que uma classe profissional extinta continua a marcar as negociações laborais. É esse o caso fantástico dos factores do Metro de Lisboa.

Lembram-se certamente do tempo em que no Metro, em Lisboa – e nessa época só existia Metro em Lisboa – um funcionário viajava dentro das carruagens? O dito funcionário, em cada estação confirmava se já tinham saído e entrado todos os passageiros e, em seguida, accionava o fecho da porta. Dir-me-ão que isso acontecia no tempo em que a dona Gertrudes Tomaz inaugurava a árvore de Natal do São Jorge. Mais ou menos. Um bocadinho para menos do que para mais: esses funcionários designados factores sobreviveram até 1995. Ou seja os factores deixaram oficialmente de existir no ano em que Ieltsin e Clinton negociavam em Moscovo, se criava o Espaço Schengen, era lançado o Internet Explorer 1, Bobby Robson era o treinador do Futebol Club do Porto.

Como se vê o mundo mudou muito nestes vinte anos, nem sempre para melhor mas mudou. Excepção feita aos factores do Metropolitano de Lisboa, que se tornaram num caso de espiritismo no mundo dito do trabalho pois se algum ingénuo pensou que extinta a função se acabavam os encargos com novos factores desiluda-se: os maquinistas do Metro passaram a receber uma remuneração extra (entre 317 euros e 475,50 euros mensais) pela abertura e fecho das portas das composições.

Mas não só. Os desaparecidos factores são sempre invocados nos acordos de empresa para explicar porque hão-de trabalhar ainda menos tempo os maquinistas. É preciso ter em conta que o horário de trabalho dos maquinistas do Metro de Lisboa está dividido em dois turnos. Mas só num deles os maquinistas dirigem as composições. Na outra metade o maquinista fica na situação de reserva, e pode, quando muito, assegurar manobras das composições nos cais terminais. O que nos leva à pergunta: porque afecta então o Metro de Lisboa tanto maquinista exclusivamente a manobras quando tem todos os dias dezenas de maquinistas parados no cumprimento do seu segundo turno? Não se sabe e também ninguém pergunta.

Mas voltemos aos factores oficialmente desaparecidos em 1995 pois, para lá de terem valido um subsídio para abrir e fechar porta, também caucionam uma redução dos já reduzidos turnos dos maquinistas do Metro de Lisboa. Como bem explicava a “camarada Anabela Carvalheira” no Avante em 2007: “Antes de 1995, quando ainda circulava um maquinista com um factor, já havia, por motivos de segurança, um limite de quatro horas, para a duração máxima de um período de trabalho, numa jornada de 7,5 horas. Ao passar ao regime de agente único, foi acordada com a empresa a redução desse limite para três horas, pois o maquinista passava a circular sozinho, numa tarefa no subsolo, desgastante, muito rotineira e que exige extrema concentração.” Camarada Anabela Carvalheira, face a este argumentário só podemos dar graças por nunca termos tido composições puxadas a mulas porque ainda hoje tínhamos o subsídio dos arreios e a compensação horária devida aos maquinistas pela angústia gerada pela substituição do animal pela máquina!

Feitas as contas não se sabe se não teria sido melhor manter os factores e sempre se ganhava em factor humano. Hoje é motivo de festa encontrar um funcionário do Metro, seja qual for a sua categoria, em muitas das estações (recomendo as de Chelas e do Alto dos Moinhos!) e, mais raro ainda, que uma vez avistado, o funcionário em causa considere caber nas suas funções atender os passageiros. Mas o espiritismo laboral dos factores é apenas uma das muitas coisas que devíamos perceber melhor no fabuloso mundo das empresas públicas de transportes.

No caso dos maquinistas do Metro de Lisboa estes além do que recebem extra para verificarem o fecho e a abertura das portas das carruagens também têm subsídio de quilometragem. Não, não é um prémio por trabalharem muito é simplesmente um subsídio por fazerem aquilo que se propuseram quando se tornaram maquinistas: fazer andar as carruagens. Note-se que caso não façam quilómetros também têm direito a um subsídio de quilometragem. Este naturalmente fixo.

Os trabalhadores do Metro têm prémio por assiduidade e também prémio por receberem prémio de assiduidade. Tantas são as hipóteses de faltar que não comprometem o usufruto do prémio de assiduidade mais o prémio por receber o prémio de assiduidade que se é levado a concluir que só não recebem esses prémios os trabalhadores do Metro que enviarem uma carta com assinatura reconhecida notarialmente dizendo “hoje não vou trabalhar porque não me apetece.”

Apesar de uma das horas de maior fluxo de passageiros ser a que decorre das sete às oito da manhã os maquinistas e demais trabalhadores do Metro de Lisboa apenas iniciam remuneratoriamente falando o seu dia normal de trabalho às 8h o que se traduz por até essa hora receberem o respectivo vencimento mais um acréscimo de 25% da retribuição…

O levantamento dos subsídios e prémios atribuídos pelo Metro de Lisboa nos acordos de trabalho é uma tarefa morosa a que me dedicarei numa qualquer noite de insónia. Mas a leitura desses acordos e da maioria dos textos que povoam o Boletim do Trabalho e Emprego é um dos exercícios mais esclarecedores a que qualquer mortal deste país pode meter mãos. Sobretudo se o mortal em causa acalentar qualquer ilusão sobre ver diminuir a carga fiscal e o Estado particularmente o seu sector empresarial reformar-se.

E sobretudo percebemos melhor o que nos está a acontecer. O que está a acontecer em Portugal é simplesmente a tomada do poder pelas corporações que vivem do Estado e dentro do Estado. Os seja, as corporações que, aconteça o que acontecer, desde avanços tecnológicos a reestruturações de serviços, estão sempre blindadas e preservadas de qualquer mudança. Cada uma delas arranjará sempre a figura do factor para justificar o injustificável.

Terminado o PREC, houve que mandar os militares para os quartéis. Terminado este governo de António Costa não sei se haverá capacidade e líderes para enfrentarem as corporações que claramente estão a ganhar (ainda) mais terreno dentro do aparelho de Estado e na direcção dos partidos. A única certeza que tenho é que o factor continuará sempre a existir nos acordos do Metro de Lisboa.»

10 de dezembro de 2015

De como jogar à sueca



Dois exemplos do manual: aqui e aqui.

AVANTE, CAMARADAS!


(imagem recolhida aqui)

A CGTP fará valer a justa luta dos trabalhadores contra a miséria dos 530€ de salário mínimo, que lhes foram impostos pelos traidores. Pelos 535€!  Até à vitória final!!!

"Hipocrisias"



(visto aqui)

Ashraf Fayad - PETIÇÃO URGENTE!!!



Caros confrades

  Convido-vos a assinar esta petição. 

  Será pouco, mas façamo-lo. Ergamos assim a nossa voz e o nosso gesto contra a violência infame, a brutalidade fanática e a cínica estupidez dum Estado abusador.

  E quem sabe se conseguiremos subtrair à morte este nosso confrade! O intuito será esse.

  Peço-vos ainda que suscitem para esse gesto, também, os vossos amigos e conhecidos. À guisa de uma legítima bofetada na face da morte!

  Obrigado.
  


Arabia Saudí ordena la ejecución del poeta palestino Ashraf Fayad por renegar del Islam

Fayad ha sido condenado a muerte por un tribunal de Arabia Saudí por apostasía —es decir, negación del Islam—, cargo que el autor ha desmentido de manera categórica.

La verdadera causa parece ser la crítica que encierra su libro Instrucciones en el interior (2008), su influyente posición en la renovación del arte saudí y, también, que grabó imágenes de torturas por parte de la policía religiosa del régimen. Durante el proceso, se ignoró su derecho a disponer de un abogado, y el juez ni siquiera habló con él. Las discriminaciones y el maltrato procesal son habituales en Arabia Saudí con los refugiados palestinos como Fayad.

Riad ha aplicado la pena capital a más de 151 personas este año, la mayoría por decapitación, convirtiéndose en uno de los mayores ejecutores a nivel mundial. Esta cifra supera ya el total de ejecuciones registradas en un solo año en el reino árabe en 1995.

Bajo la ley saudí, los delitos como violación, asesinato, apostasía, robo a mano armada y tráfico de drogas pueden ser castigados con pena de muerte, y varias personas han sido ejecutadas también por acusaciones de brujería.

El Movimiento Poetas del Mundo ha lanzado una campaña para salvar a nuestro poeta, miembro honorífico de nuestra organización que cuenta en sus filas con 46 poetas palestinos y con más de nueve mil poetas a nivel mundial.

LLAMAMOS A TODOS NUESTROS MIEMBROS A FIRMAR LAS PETICIONES QUE CIRCULAN PARA SALVAR LA VIDA DE NUESTRO COMPAÑERO

Aschraf Fayad - Palestina
Miembro honorífico de Poetas del Mundo

Signez la pétition :


Amnesty international : Save the palestinian poet and artist Ashraf Fayadh


VER VÍDEO: