Floriano Martins
Poeta, tradutor, ensaísta, operador cultural
no sentido mais salubre do termo, tem presença marcada nas Américas e na
Europa. Foi o curador da Bienal do Ceará (Fortaleza, 2008) e orientou
seminários nos EUA. O seu poemário “Alma em chamas”, publicado em 1998, tem
sido considerado pela crítica atenta como um dos melhores livros dados a lume
no Brasil nos últimos 20 anos.
Do poeta diz o poema:
Do poeta diz o poema:
O TABELIÃO
Um nome para as partes de teu corpo que
emitem fogo,
outro para o rosto que se guarda de tais
chamas.
Um nome que seja para o guia de tuas
pernas flutuantes,
e outro mais para os campos que evitam tua
morada.
Todos estarão felizes com seus nomes. Uns
com mais de um,
outros a ponto de perdê-lo. O nome os
torna quase perfeitos.
Aponta-me um deus sem nome e disto me
encarrego.
Serão belos ou tristes, enfaixados ou
traídos pela corte,
violentos ou angustiados. Há os que se
sentem únicos
e julgam-se renascidos a cada vez que o
nome é pronunciado.
Mesmo sendo iguais, os nomes também são
distintos.
Distribuo-os carregados de ilusões.
Fábulas ou decretos,
rubrica de tudo o que somos ou rejeitamos.
Não te protege
o inferno do nome certo, traje com que
entras em cena.
ENTRADAS
INVISÍVEIS
Meu
pai envelhecido diante do fogo,
árvore
não mais guardada em tremores.
Oh
doce treva, tua idade se extingue
para
sempre? Que obscuro cântico
afasta
o homem do júbilo de sua morte?
Terra
e homem diante do fogo, névoa
a
voz das cinzas. A língua não pode
conter
sua imagem derramada em cal.
Meu
pai, com seu pesado corpo alheio
ao
tempo, parece haver desnudado
o
inferno, aprendido as palavras com que
se
faz o abismo descarnar. Rodeado
por
ávida quietude, o fogo, eterno súdito
de
impiedades, rege o olhar do morto.
1 comentário:
Muito bom. Chapelada e...obrigado.
Maria Viveiros
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