(Ali Mohamed al-Nimr tinha 17 anos quando
foi preso. A pena de morte pode ser- lhe aplicada a qualquer momento) - recolhido no Observador
Ali Mohamed al-Nimr, um jovem de 21 anos da Arábia Saudita, foi
condenado a ser decapitado e crucificado em público. A sentença deveu-se
à sua participação numa manifestação que ocorreu na cidade de
Qatif. Os manifestantes defendiam a igualdade de direitos entre a
população xiita, a que al-Nimr pertence, e a população sunita, que
constitui a maioria no país.
Na primeira entrevista da sua mãe aos media estrangeiros, relatada pelo
jornal inglês The Guardian, Nusra al-Ahmed qualifica a pena imposta ao seu
filho como “selvagem” e vinda “da idade das trevas”. Nusra al-Ahmed acusou
ainda as autoridades sauditas de terem torturado o seu filho na prisão:
Quando visitei o meu filho pela primeira vez não o reconheci.
Não sabia se [a pessoa que visitei] era realmente o meu filho ou não. Via
claramente que tinha uma ferida na testa, outra no nariz. Desfiguraram-no.
Até o corpo, [que] estava excessivamente magro. [Quando] comecei a falar com
ele [disse-me que] durante o interrogatório [foi] pontapeado, deram-lhe
estaladas, os seus dentes caíram, claro… [e] urinou sangue durante um mês.
Agora, a mãe do condenado implora ao presidente norte-americano Barack
Obama que o salve, fazendo uso da sua popularidade e das estreitas relações
entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita. “[Obama] é o líder deste mundo (…)
pode interferir e salvar o meu filho (…) Eu e o meu filho não temos nenhuma
importância neste mundo mas apesar disso, se ele assumisse este ato (…)
estaria a salvar-nos de uma grande tragédia”.
Nusra al-Ahmed, que segundo relata o Guardian acredita que a pena foi
imposta ao filho para o punir pela sua fé xiita, mostrou-se ainda
indignada com a pena:
Nenhum ser humano são e normal daria esta sentença a uma criança de 17 anos
[Ali Mohamed al-Nimr tinha 17 anos quando foi preso pelas autoridades do país].
Não derramou qualquer sangue, não roubou propriedade nenhuma. Onde foram buscar
isto? À Idade das Trevas?
A decisão do Supremo Tribunal da Arábia Saudita tem motivado críticas, vindas
de vários pontos do globo. Entre os grupos de direitos humanos mais críticos da
situação encontram-se a Amnistia Internacional e a Reprieve, uma organização
britânica cuja missão diz ser “ajudar as pessoas que sofrem abusos extremos de
direitos humanos às mãos dos governos mais poderosos do mundo”.
No Reino Unido, o primeiro-ministro David Cameron apelou na passada semana
ao rei da Arábia Saudita para não aplicar a pena de decapitação e
crucificação a Ali Mohamed al-Nimr. E, esta terça-feira, anunciou ter
retirado uma proposta de quase 8 milhões de euros que havia feito à Arábia
Saudita para um programa de treino aos guardas prisionais do país. A
decisão também se deveu à retenção do pensionista britânico Karl Andree numa
prisão da Arábia Saudita por posse de álcool: um caso que tem preocupado o governo britânico.
A embaixada da Arábia Saudita no Reino Unido já reagiu ao que classifica
como “interferências em assuntos internos” do país, lançando um comunicado onde
repudia a interferência do Reino Unido no sistema judicial “independente e
imparcial” do “estado soberano” da Arábia Saudita.
E para este condenado, vejamos o
poema de Mário Cesariny:
O HERÓI
Herói é o
meu nome.
Meu olhar
frio, arguto
Não vê coisa que o dome.
Meu esforço rude e sano
Não desmaia um minuto.
Não vê coisa que o dome.
Meu esforço rude e sano
Não desmaia um minuto.
Sou herói
todo o ano.
Quando
passar por vós, naturalmente,
com este meu ar simples e no entanto diferente
e no entanto diferente do ar do resto da gente
não digais: é fulano.
Dizei: é o Herói.
com este meu ar simples e no entanto diferente
e no entanto diferente do ar do resto da gente
não digais: é fulano.
Dizei: é o Herói.
O herói,
simplesmente.
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