2 de novembro de 2015

In memoriam de Manuel Hermínio Monteiro




António Maria Lisboa

Senhora mãe é uma escadaria de costas para o poente
as mãos no peito, “as mamas na varanda”.
No passe-vite, nos brinquedos do menino
na fome do menino
Senhora mãe vai esmigalhando deus e o diabo
pela tarde fora
pelo silêncio adentro.

(foto obtida aqui)

Um pardal poisa em frente ao sol do poema
vem do Norte
vem de trás do tempo
na Senhora mãe o pardal goteja
a loucura inominada
do nome das casas
um pardal de erva submete a primavera
em Novembro, Senhora mãe,
um pardal sem choro semeia o vendaval
                 parte vidros
                 sorri atrás da porta
                 chupa-te os dedos Senhora mãe
aniquila no teu vestido vermelho
o teu palácio apocalíptico
o teu silêncio de mina
as serpentinas de arame
nos teus olhos de escadaria
batendo maternalmente no poema
que um poema
é maior que um filho penteado.

Sem comentários: