30 de janeiro de 2016

"Não há paciência"



É o que diz aqui Helena Matos, e eu estou totalmente de acordo. 

«Eu sei que devia escrever sobre o orçamento ou, mais pertinente ainda, sobre a queda em desgraça do Tribunal Constitucional que se limitou a decidir como sempre fez ao longo destes últimos anos – protegendo os membros da corporação Estado – mas que desta vez, e ao contrário do que tem acontecido, acabou criticado por quase todos. Mas o que tenho para escrever sobre o assunto ainda acaba a colidir com a assepsia do dia de reflexão e longe de mim perturbar voluntaria ou involuntariamente a reflexão de quem quer que seja. Presumo até que por estas horas, sentadinhos em tapetes, no cimo de serras e nas profundezas das grutas milhares de portugueses em posição de lótus procuram avaliar as diferentes propostas eleitorais. Que não acabem com o cérebro e as costas feitos num oito é o que lhes desejo. E foi assim que, de assunto em assunto, acabei noutra eleição ou mais propriamente nos óscares, cerimónia regra geral aborrecida para todos os mortais à excepção dos candidatos mas que acabou transformada em acontecimento mundial.

Os óscares ganharam agora outro foco além do cinematográfico propriamente dito. Trata-se da cor da pele e do sexo dos nomeados. Enfim o cinema é uma indústria e a indignação também e cada um faz nessas indústrias o que quer ou pode para ganhar a vida. Mas à liberdade dos senhores Will Smith e Spike Lee de dizerem e fazerem o que lhes apetece – nomeadamente o anúncio de que não participarão na cerimónia dos óscares por só terem sido nomeados actores no dizer deles caucasianos (confesso que no caso do Stallone após tantas operações e tanto botox nem consigo garantir que ele seja humano, quanto mais caucasiano ou asiático!) – corresponde o direito dos outros lhes responderem que boa parte do que dizem não passam de rotundas parvoíces.

Mas vamos ao assunto propriamente dito: este ano não há negros entre os actores candidatos aos óscares. Por acaso também não vislumbrei por lá nenhum chinês, ou melhor dizendo asiático. Claro que também não há mulheres gordas nem feias. E quanto a idades seríamos levados a acreditar que o sexo feminino desaparece da face da Terra passados os 35 não fossem estar candidatas as anciãs Cate Blanchet (nasceu em 1969) e Charlotte Rampling, que veio ao mundo em 1946 e a quem as declarações que fez sobre este assunto – “racismo contra brancos” – devem ter feito perder qualquer possibilidade de ganhar a estatueta (isto apesar de Charlotte Rampling se ter apressado a pedir desculpa e dizer que foi mal interpretada).

A questão racial tornou-se o mais patético exercício de promoção do coitadismo, sobretudo entre os negros norte-americanos. que é o mesmo que dizer que em todo o mundo a que chegue a televisão. O que não fazem ou não conseguem é invariavelmente o resultado do racismo e nunca do seu não esforço ou desinteresse. Em Portugal, temos nesta matéria o incontornável paradoxo de se explicar com o racismo e os problemas associados à imigração os fracos resultados escolares dos alunos ditos africanos. Note-se que a não ser que a Amadora ou Moscavide fiquem em África não há razão alguma, a não ser a cor da pele, para que se chamem africanos a estes jovens nascidos em Portugal, frequentemente filhos de pais nascidos também em Portugal. Curiosamente ninguém se interroga sobre os brilhantes resultados escolares dos filhos dos ucranianos, que pouco tempo depois de chegarem a Portugal se tornam nos melhores alunos das suas turmas.

Sob o silêncio em torno deste assunto, nomeadamente o silêncio de muitas daquelas associações que vivem de denunciar o racismo e que na minha opinião em vez de o combater o promovem, guetizando ainda mais aqueles que deviam integrar, esconde-se um arreigado paternalismo, esse sim racista, que na prática se traduz por isto: os ucranianos são brancos, têm olhos azuis e para mais vieram daquele caldeirão do ex-mundo comunista, logo politicamente não interessam a ninguém. Pelo contrário os negros (e agora também os muçulmanos) vivem mediaticamente falando sob a tutela da esquerda. Esta primeiro quis libertar África. Transformadas essas libertações em embaraçosíssimas ditaduras, entende agora a esquerda que há-de transformar no seu novo eleitorado essa multidão, que em boa parte teve de deixar África porque as tais libertações só produziram miséria. Com as classes trabalhadoras a descrerem cada vez mais das virtudes do socialismo, promover o ressentimento e o assistencialismo numa população para mais jovem é uma boa forma de garantir os votos por largos anos.

Nos EUA temos a juntar a tudo isto Hollywood e o puritanismo. Assim, com aquele frenesi que os levou à Lei Seca e destrambelhos quejandos, atiram-se agora às questões que se dizem de género e a tudo o que vagamente possa ser relacionado com o racismo. Há de tudo e para todos os gostos. Como não é humanamente possível seguir todos os racismos por ali denunciados resolvi focar-me na problemática dos homens asiáticos que denunciam que o cinema os discrimina. Porquê? Entre outras coisas porque nunca são vistos como desejáveis pelas mulheres brancas! A esta assexualização dos homens corresponde, segundo os promotores desta causa, uma sexualização das mulheres asiáticas. Enfim acabaremos literalmente a discutir a cor dos anjos mas não quero sair deste assunto sem lançar eu mesma uma outra causa: a das mulheres brancas que nos filmes ficam sempre a perder para as asiáticas que, para lá doutras vantagens estéticas, são sempre enaltecidas pelos guionistas, homens obviamente, porque não falam: nos filmes ocidentais as mulheres asiáticas aparecem invariavelmente como seres de poucas ou nenhumas palavras. Ora uma mulher silenciosa, ou mais propriamente uma mulher que não lhes diga a verdade, é o sonho de qualquer criatura do sexo masculino nascida no Ocidente. E assim esta minha causa junta não só o combate ao racismo face às mulheres asiáticas, mais o racismo perante as mulheres brancas como ainda combate o machismo dos homens ocidentais. Fantástico não é? Ainda acabo nos óscares!

Quero acreditar que a histeria terminará. Que um dia seremos capazes de reflectir sobre o proselitismo que levou a situações tão aberrantes quanto a vivida em Rotherham, Inglaterra: em pleno século XXI, 1400 crianças que estavam sob a tutela dos serviços sociais foram abusadas sexualmente. Os abusos duraram anos. O facto de os abusadores serem de origem paquistanesa levou a que durante anos e anos não só não se fizesse nada para acabar com aquele pesadelo como os poucos que o tentaram denunciar acabaram a ser confrontados com acusações de racismo e desadequação aos valores multiculturais.

A falta de destaque noticioso sobre o caso de Rotherham, que contrasta por exemplo com a indignação com os abusos sexuais levados a cabo sobretudo no século passado por sacerdotes católicos, é sintomática da hipocrisia que reina nesta matéria, hipocrisia que ela sim é uma forma de racismo. Porque uma violação é uma violação independentemente de quem a pratica e de quem a sofre.

E agora ou escrevo sobre o sucedido em Colónia ou, opção bem mais interessante, sugiro que nas intermitências da empastelada noite dos óscares vejam um filme. Chama-se Cowboys. É de 1972 e tem como principal protagonista um John Wayne já velho o que não lhe tira nada daquele sugestivo andar que ninguém explicou tão bem enquanto símbolo da  masculinidade quanto o actor Nathan Lane na Gaiola das Malucas.

Mas voltando a Cowboys a história nem é muito original: Wil Andersen(Wayne) um rancheiro para quem a vida não deve ter sido meiga vê-se por circunstâncias várias à frente de um grupo de rapazes, os cowboys possíveis já que os homens adultos tinham desaparecido em mais uma corrida ao ouro. Wil Andersen (Wayne) tem de levar a sua manada para um local que fica a 650 quilómetros. É fácil perceber que a viagem se transforma num ritual de passagem dos rapazes para o mundo dos adultos.

Contudo o filme não é hoje propriamente considerado uma fita familiar. Antes pelo contrário. Ora porque Wil Andersen (Wayne) tem um entendimento da educação dos rapazes nada consentâneo com as pedagogias de hoje, ora porque reproduz todos os estereótipos da masculinidade e, cereja no topo do bolo, porque a palavra nigger é pronunciada no filme a propósito do cozinheiro Jebediah Nightlinger interpretado por Roscoe Lee Browne. Perante o primeiro negro que viam na sua vida os miúdos não só proferem nigger várias vezes como pretendem saber se aquela negritude abrange todas as partes do seu corpo.

E assim os jovens de hoje podem ver filmes com sexo, violência e consumo de drogas à vontade mas claro nenhum adulto responsável pode gritar com eles como faz Wil Andersen (Wayne) no filme e claro que os negros passaram a afro-americanos, os chineses a asiáticos e por aí fora.

Perante o desconchavo de tudo isto só apetece recuperar a resposta de Roscoe Lee Browne, sim o mesmo que faz de cozinheiro em Cowboys e que era um notável intérprete de poesia e textos clássicos e dono de uma dicção fabulosa, àqueles que o acusavam de ter uma voz demasiado branca: “Peço desculpa tivemos uma mulher a dias branca.»

7 de janeiro de 2016

MORRA!



A "europa" vive tempos de absoluto desnorte. É uma espécie de época de juízo final em que a factura de todo o marxismo centralista asfixiante se apresenta a pagamento.

Tudo o que foi parido de Maaschtrich para cá deu bota.

O multiculturalismo estoira-lhes no focinho a toda a hora.

Já todos os países estão contra todos.

Já em todos os países forças políticas de separação emergem em velocidade vertiginosa.

Dois importantes países estão ou de saída ou a tentar aplicar as regras deles: Inglaterra (com o UKIP) e França com Marine Le Pen. Num caso e noutro obrigando sob pressão eleitoral os governos no poder a vergar aos anti europa.

Nos EUA Trump faz perceber que recolocará os EUA naquilo de onde nunca deveriam ter saído mas, desta vez, apresentando facturas. Obama, entre partidas de golf, rasteja tentando fazer crer que ainda tem autoridade política. A "europa" pressente que se os EUA voltarem ao que eram o moribundo "projecto europeu" estoirará que nem um sapo.

Uns quantos outros países tentam ainda juntar-se ao ouruborus na expectativa de ainda poderem abocanhar qualquer coisa. A Turquia é um deles.

Entretanto, em jeito de desespero final e contra todas as evidências em que cada novo regulamento lhe aplica mais um prego no caixão da insipiência económica, continuam regulamentando furiosamente, agora tentando obrigar cada detentor de cada pequena horta a frequentar um curso sobre substâncias químicas.

Parece que só não há fungicidas para os cogumelos venenosos de Bruxelas.

Que a "europa" morra ... no papel, porque na realidade nunca passou de zombie. Pena é que os largos milhares de seus adoradores não possam passar uns anos atrás das grades.

MORRA O DANTAS, MORRA!

4 de janeiro de 2016

"Coisas que nunca mudam: as não notícias"




Tal como afirma Helena Matos, no Observador:

«As não notícias são tão importantes quanto as notícias. Às vezes ainda mais que as notícias. Porque as não notícias mostram como os jornalistas resistem a desfazer as suas ilusões.

As não notícias sobre a França. Em França, país bem perto de nós, foram incendiados na passagem de ano 804 veículos. Note-se que estes números estão a ser apresentados como positivos pelas autoridades francesas porque na passagem de 2014 para 2015 arderam mais 136 carros. Ou seja 940. Claro que nessa data a França não estava sob medidas de segurança tão severas quanto as actuais (os atentados aoCharlie Hebdo aconteceram dias depois, a 7 de Janeiro de 2015 e só em Novembro tiveram lugar os atentados de Paris) e de modo algum nas ruas daquele país estavam então destacados os mais de 100 mil agentes que integraram o dispositivo de segurança neste final de 2015. Como é possível que se pegue fogo a oito centenas de veículos com mais de 100 mil agentes policiais e militares nas ruas? É um mistério.

Mas convenhamos que é um mistério bem menor que o silêncio que impera nos jornais e televisões da restante Europa sobre o que acontece naquele país. Ou seja como é possível que não tenhamos informação sobre estes incidentes? Ou, para não sairmos ainda da temática dos carros incendiados, como não soubemos das 700 viaturas que arderam no 13 de Julho deste ano? Nem sequer o facto de no dia em que a França comemora a sua festa nacional ter havido também escolas incendiadas fez com que o destaque noticioso fosse maior.

Há momentos em que quero acreditar que tudo se explica pelo facto de hoje não se falar francês e por consequência a França só ser notícia quando sai nos jornais ingleses, de preferência no Guardian. Mas digamos que essa explicação se pode aplicar ao reino do Butão e respectivo lugar no índice de felicidade mas não à França onde a não notícia se tornou uma opção consciente: da França vieram primeiro revoluções e ilusões. Agora, para não comprometer a memória das primeiras e o poder das segundas, não se noticia.

Assim, ao mesmo tempo que assistimos à pilhagem de uma qualquer loja no mais recôndito canto do Ohio, nunca vemos as carcaças queimadas dos automóveis em França. Nem sequer casos como os recentemente ocorridos no final de Dezembro em Ajaccio, capital da Córsega, conseguiram romper este muro de silêncio. Digamos que em Ajaccio tudo começou como de costume: os bombeiros foram chamados ao que se designa como bairro sensível. No caso os Jardins do Imperador. Uma vez lá chegados os bombeiros foram emboscados e agredidos. Nos dias seguintes sucedem-se as manifestações de corsos indignados com o que acontecera nos Jardins do Imperador. Gritam que não querem acabar fechados em casa com medo como acontece nos banlieu do continente. Mas não só. Gritam também palavras de ordem contra os árabes e numa das manifestações rompem a barreira policial e saqueiam um local de culto muçulmano.

Qual foi o destaque noticioso destes gravíssimos incidentes? Digamos que ele passou quase tão discretamente quanto a indicação de que desde Feveiro de 2015 já se registaram em França 200 incidentes contra militares, sendo que sete desses incidentes foram classificados como muito graves. Aliás, logo no início deste 2016, em Valence, registou-se um desses incidentes: um homem tentou atropelar quatro militares que faziam segurança junto a uma mesquita.

As autoridades, mimetizado a reacção que mantiveram até aos ataques de Novembro em Paris, logo declararam ser o homem em questão um lobo solitário para mais desequilibrado. Apesar de na sua casa ter sido encontrada propaganda jihadista, a pista terrorista não está ser seguida e admite-se que talvez exista “un lien entre son acte et une certaine religiosité”… que é como quem diz uma ligação entre o seu acto e uma certa religiosidade. Qual será a religiosidade em questão?… Como se vê, não é por falta de notícias que a França não está nas notícias. É sim porque se ficou sem narrativa. Quando o próximo sobressalto chegar, lá aparecem as carinhas a chorar mais o facebook às risquinhas e a Torre Eiffel muito fofinha. Sinais exteriores de quem não quis ver, nem ouvir nem saber.

As não notícias sobre a Grécia. Este Inverno deve estar a ser bem cálido em Atenas. Porque neste Inverno já ninguém tem frio na Grécia. Nem fome. Nem sonhos desfeitos. Nem medicamentos inacessíveis… A Grécia morreu para as notícias no dia em que os jornalistas ocidentais deixaram de ver em Tsipras o Che sem espingarda. Já não sabemos se Tsipras vai a Bruxelas, se leva gravata, se a mulher se zangou ou não com ele… Tsipras desapareceu noticiosamente falando em Julho deste ano. No momento em que deixou de ser o rosto da alternativa, do bater do pé, do virar da página da austeridade e de todas as outras categorias do pensamento mágico a que o socialismo se reduziu, Tsipras saiu dos ecrans. Por estes dias teve um regresso fugaz porque voltou a vestir a pele do Tsipras que ia mudar a Europa. Ou seja fez mais do mesmo: disse que não ia ceder aos credores. E como é disso que os jornalistas gostam lá lhe deram uns segundos da velha fama.

Curiosamente pasmamos com as fotografias em que Estaline mandava apagar os opositores mas este processo de apagamento dos heróis mediáticos que acontece em plena democracia não parece suscitar qualquer perturbação. E contudo ele é revelador do fogo fátuo que enche boa parte daquilo a que chamamos notícias, reportagens e investigações. Um desejo para 2016? Quero o Tsipras de volta. Quero saber o que faz, o que decide, o que legisla. E de caminho quero saber onde param os postais autografados por Tsipras, que se vendiam a três euros cada, com que umas almas militantes se propunham juntar dinheiro para libertar a Grécia dos credores. Como não podia deixar de ser a iniciativa foi noticiada com alarido aqui, mais aqui, e aqui, também aqui e aqui… (é melhor ficar por aqui porque com tanto aqui o texto está a ficar cacofónico) e agora nada de nada.

As não notícias sobre Guantanamo. Quantas notícias tivemos sobre Guantanamo desde que Barak Obama foi eleito? E desde que foi reeleito? Dado o silêncio que impera sobre o assunto quase se é levado a pensar que Guantanamo fechou. O quase embargo sobre o assunto é quebrado de vez em quando por uns anúncios de que o presidente dos EUA está a ultimar um plano para fechar Guantanamo. Depois temos as inevitáveis conclusões de que Obama gostaria de fechar Guantanamo mas não pode. Porquê? Não se diz. Mas note-se que as mesmas fontes asseguram e asseguraram que o anterior presidente podia fechar Guantanamo mas não queria.

As notícias sobre os EUA e seus presidentes tornaram-se na versão mediática dos gatinhos no facebook: milhões de likes para os democratas, partilhas virais e ódios profundos para os republicanos. Informação quase nenhuma.

Opções que com um presidente não democrata e sobretudo não tão querido dos estúdios de cinema e de televisão quanto o é Barack Obama teriam gerado enorme controvérsia – a aposta cada vez mais forte na exploração dos gás de rocha – têm passado quase inadvertidas apesar de ambientalmente terem muito para questionar. E como entender essa espécie de regressão nas questões raciais em que de repente os EUA parecem ter caído? Reduzidos como estamos às notícias do tipo “EUA: polícia mata condutor negro” – se o condutor fosse branco ou asiático escrever-se-ia “EUA: polícia mata condutor branco”? – deixámos de questionar os efeitos reais daquilo a que se chamam medidas de combate à discriminação racial.

Divididos entre uma élite da qual Obama e a sua mulher fazem parte e uma maioria presa nos meandros do coitadismo, os negros norte-americanos são cada vez mais objectos de uma simplificação para não dizer infantilização nas notícias.

Mas tal como acontece com Guantanamo que era para fechar e não fechou custa muito escrever sobre as bolinhas de sabão que fizeram capa e abriram noticiários e depois se viram desfazer.»